Opinião

Bingo

Liiiinhaaa!!

O grito saiu desafinado, esganiçado, como era de se esperar de um garganta com mais de meia vida.

E pior, fora de hora.

A linha já havia sido premiada há muito tempo e a rodada prosseguira para a premiação de cartela cheia. Do bingo.

Murmúrios, risinhos, gozeira geral. 

Em tom contemporizador o locutor minimizou o equívoco e prosseguiu com o sorteio.

Olhei para o frustrado “ganhador” e o reconheci de imediato. Era habitué do bingo.

Na sexta-feira passada ele estava naquela mesma mesa, com duas balzaquianas, que, pelo jeito, conheceu lá mesmo, naquela noite.

Como daquela feita, desta ele estava muito bem vestido, cabelos aparados, valorizando o grisalho apenas começado, camisa de linho, cuidadosamente desabotoada até onde convinha, para exibir a grossa corrente de ouro.

Sobre a mesa, displicentemente jogados, celular de última geração, isqueiro de luxo e maço de cigarros. Bebia wiskey importado.

Sem aliança no dedo, passava a imagem de um solteirão bem sucedido, à cata de aventuras.

Quem sabe, até mesmo um “compromisso sério”, como nos anúncios de revistinhas e jornais?

Curioso, passei a observá-lo melhor.

Na mesa dele uma moreninha bem apanhada, de uns 25 a 30 anos.

Provavelmente funcionária de uma das pequenas empresas da região, sobre ela só uma certeza: mal amada!

Não foi difícil constatar que se conheceram ali mesmo, no bingo.

Coisa de compartilhamento de mesa.

O papo ainda não era íntimo ou descontraído, mas prometia, porque era visível o esforço para impressionar bem a moça.

Não fiquei nenhuma vez pela “boa”.

Decididamente, não era meu dia de sorte.

Pelas tantas, desencantado, pedi a conta. 

Enquanto aguardava, dei mais uma olhada no meu personagem. 

E não é que ele já estava trocando algumas carícias com a morena, que bebia, fumava e ria, sem parar! 

Eufórica!

Não sei se deu samba aquele encontro lúdico, mas fui embora pensativo. Seria o bingo um novo point, um bom local de paqueras?

Acho que sim e “me empresta o fogo” um bom começo de conversa.

Tarcísio P. Ferreira

Belorizontino (nóis daqui junta as palavra mesmo), atleticano, advogado, cozinheiro e viajante! Conhecendo o mundo pela sua culinária, seus vinhos e butecos... nesta ordem!

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