• Conto,  Literatura

    Filho do Bigode

    O Lourdes, em Belo Horizonte, pelo meio dos anos oitenta, era um bairro essencialmente residencial. Ainda existiam ali, antes das grandes construtoras entrarem e verticalizarem tudo, muitos casarões antigos, que abrigavam famílias que se conheciam pelo nome, nas suas ruas sombreadas por árvores frondosas, onde se viam rodas de idosos sentados nas calçadas a ler o jornal, ou disputando jogos de dama, meninos descendo as ladeiras em seus carrinhos de rolimã, senhoras com meninos de colo fofocando na rua, o que transformava o bairro, quase na virada do século vinte, meio que em uma cidade do interior, encravada dentro de uma capital. Esse era o clima! E lá vivia o…

  • Conto,  Literatura

    Reais!

    Em Curitiba, 24 de maio. Ano do Senhor de 1999.  Há mais de 5 anos que não vinha nesta cidade.  Muitas novidades: Rua 24 Horas, já imaginaram que legal? Tudo funcionando, ininterruptamente: lanchonetes, bares, farmácias, floras, lojas de discos, tudo enfim.  E aquele movimento incessante de pessoas de todas idades. 21:00 hs, refestelo-me na cadeira confortável, para curtir aquelas duas horas de que dispunha, para lazer, antes de me recolher para o sono reparador. Nuuu, como desceu bem aquele primeiro copo de chopp, super gelado! Observo o povo, nem bonito e nem feio, bem vestido e agasalhado, maçãs de rosto coradas. Bem nutrido! E me lembro do nordeste, com seus…

  • Conto,  Literatura

    No Show

    Perdi o vôo.  Cheguei até bem cedo no aeroporto, mas me distraí com um bendito telefonema que resolvi dar  para a VASP, a fim de reclamar uma passagem- bônus a que tinha direito e que tardava a me chegar às mãos. Engraçado é que nem precisava dela!  Não tinha planos, a curto prazo, de uma viagem de lazer para aproveitá- la. Já passei muitas horas em aeroportos aguardando as famigeradas conexões, mas nunca me senti tão desenxabido, tão desconfortável. Afinal, mineiro não perde o trem. Nem bonde. Quanto mais avião! Em certo momento,tive a sensação de que todos me olhavam contristados, porque se apercebiam da minha frustração. O quê fazer? Putz,…

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    O gato!

    Felino auspicioso! Sabe o que é o amor sem cobrança! Cuida e conta com o cuidado, mas, cuidadoso que sói, espia a maldade na busca meditativa da vida plena. Dinâmico com a mesma miada com que é contemplativo e descansado! Este é gato: sinônimo coloquial da beleza másculo-feminina que, para os biólogos é saciável! Para os poetas, como dizia minha Nonna Noêmia Merllo Massaia Chimicatti o é insaciável por natureza, aliás, assim éramos todos nós vistos por ela naquela greta do basculante da saudosa Ametista, 49 do Bairro Prado da capital das alterosas!Nonna, aliás, sabia: todos somos insaciáveis; mais ou menos narcisistas; italianos, então, somos eloquentes. Mas o gato é…

  • Conto,  Opinião

    Piano, piano se vá a lontano

    Professava a nona Noêmia, todos os dias, ao chamar-me para um “bicchiere” que  brindava uma belíssima iguaria ao mangiare do dia! O vinho, alimento da alma, foi um dia o sustento da origem da minha famiglia! Rua Franciso Socaceaux, Bairro da Lagoinha, esse foi o mágico endereço onde a uva colhida  no quintal era macerada com os pés do Luigi Merllo, enquanto a Luccia Massaia preparava o pão! Logo saído do Forno à lenha, o burrinho já arriado partia sob o chamado da Nona que, mascateira qua era desde a tenra idade, saía para sua peregrinação peripatética pelo bairro dos Italianos, recém chegados da “Terrinha” para a venda do vinho…