Conto,  Literatura

Reais!

Em Curitiba, 24 de maio.

Ano do Senhor de 1999. 

Há mais de 5 anos que não vinha nesta cidade. 

Muitas novidades: Rua 24 Horas, já imaginaram que legal?

Tudo funcionando, ininterruptamente: lanchonetes, bares, farmácias, floras, lojas de discos, tudo enfim. 

E aquele movimento incessante de pessoas de todas idades.

21:00 hs, refestelo-me na cadeira confortável, para curtir aquelas duas horas de que dispunha, para lazer, antes de me recolher para o sono reparador.

Nuuu, como desceu bem aquele primeiro copo de chopp, super gelado!

Observo o povo, nem bonito e nem feio, bem vestido e agasalhado, maçãs de rosto coradas. Bem nutrido!

E me lembro do nordeste, com seus contrastes e toda aquela pobreza.

É Brasil, tudo é Brasil, de povo feliz, do samba, do futebol e da praia.

Como que para despertar-me, uma criança bonita, mas de rostinho sujo, quase maltrapilha, vem me vender um maço de agulhas. 

Agulhas!

Meu Deus, o que irei fazer com agulhas?

Só se for para me espetar e acordar para a realidade da pobreza, que existe em todo lugar do mundo.

Dei-lhe dois reais e dispensei as agulhas.

Santo Deus,como estão valendo!

Constatei isso pelo espanto e pelo bonito sorriso daquela menina e, em especial, pelo olhar agradecido da mãe, que também vendia, sem que eu tivesse notado, sobre um caixote na esquina próxima, cartelas de agulhas.

Real, com praticamente o mesmo valor do dólar. 

Aí me questionei: até quando esse sonho vai durar?

Tarcísio P. Ferreira

Belorizontino (nóis daqui junta as palavra mesmo), atleticano, advogado, cozinheiro e viajante! Conhecendo o mundo pela sua culinária, seus vinhos e butecos... nesta ordem!

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