O Dourado e o Pescador.
O Dourada, fisgado, salta metro e meio fora d’água. Seu brilho refletido por um sol intenso, nos prestigia e exibe um balé sobre as águas do rio Aquidauana – no Pantanal mato-grossense. Estava-se diante de um bravo. Seu esperneio e força excitam e comovem, dando a exata dimensão do que significa coragem e força. Sua silhueta brilhante, voando alto, tenta cuspir, chacoalhando sua cabeça de lado a outro, o anzol assassino entranhado em seu beiço duro. O bicho luta feito um samurai flutuando acima d’água. Do ar mergulha sob um rio caudaloso e escuro; imerge e feito um torpedo certeiro, à flor da água, segue em direção ao barco numa velocidade inacreditável. A linha não vence ser puxada pelo molinete e seu pescador atordoado e inseguro a enfrentar aquele guerreiro.
A vara envergada encosta sua ponta no leito do rio e a linha desaparece por debaixo da pequena embarcação. É preciso técnica e o homem, já exausto, usa toda sua habilidade na ânsia de domar aquele monstro rebelde. Ambos, numa batalha feroz, buscam forças a não mais poderem.
O caiçara, a ajudar, pilota o barco como quem desafia o peixe malabarista que brinca de esconde-esconde: de lado a lado se digladiam com destreza. Peixe e homem, homem e peixe duelam, esgrimindo, frente-a-frente, de um lado a inteligência e experiência, doutro, instinto de sobrevivência e luta. Para um, vida ou morte, para outro diversão e glória.
Se o homem tem, ao seu lado, raciocínio e destreza pantaneira, o peixe tem força e sorte. O desafio se consuma, sem morte, porém: a linha raspa no casco sob a água rompendo-se. O grande peixe dourado desaparece sob o rio exuberante, de uma savana encharcada e repleta de espécies maravilhosas…
Sem acreditar, vencido, o pescador, olhar fixo na água, sorri; balança lenta e negativamente a cabeça, e reconhece o mérito daquela singular criatura.
Alexandre
08/06/2020
One Comment
CHIMICATTI
Te confesso que torci para o Dourado desde que ele “como um Samurai flutuando acima d’água”!
Belíssima técnica descritiva!