Causo,  Literatura

O Passarinho, a porra do Coelho e o Brasil

Vinícius Rezende

Vou contar um “causo” do início da minha carreira.

Quando iniciei minha vida acadêmica, estava sedento para arrumar um estágio em um escritório de advocacia. Queria viver o dia-a-dia de um advogado e queria, sobretudo, usar terno! Ok, hoje estou preferindo uma sunga.

Tive, então, a oportunidade de trabalhar no escritório do Dr. Paulo Passarinho, um dos maiores advogados que conheci. Além do seu primoroso conhecimento técnico e dos seus ternos bonitos, ele era colecionador de canetas, cada uma mais bonita que a outra, e aquilo me fascinava – terno, escritório, caneta, processos, Diário Oficial imprenso, enfim, um mundo novo, hoje velho.

Além de ler, todo santo dia, o Diário Oficial impresso (essa parte eu não gostava – sujava o dedo todo), minha principal tarefa era “fazer o fórum”. Aliás, eu conhecia o fórum na palma da minha mão, onde ficavam as varas de família, as cíveis, as sucessórias, as criminais, os Juizados, o vendedor Djavan com seu cafezinho e lanches de primeira qualidade…. me sentia absolutamente em casa! Aliás, o vendedor Djavan “cantava” pelos corredores: Café, água, sanduiche….. eXcolhe a balinhaaaaa, chiiiiiiiclete.

Mas, nem só de coisas boas vive o estagiário….rsrs.

Certa feita, o Dr. Paulo, o Passarinho, me pediu para buscar um processo numa das 18 Varas de Família. Era daqueles processos volumosos que fazíamos questão de mostrar o seu tamanho, como se tamanho fosse documento (ok, as vezes é…). Quanto maior, mais complexo era e mais importante também… Sabe de nada estagiário inocente!

Chegando na serventia, com o boleto do andamento processual, obtive a informação com o escrevente Brasil (sim, esse era o nome dele), que o processo estava na costura com o Coelho, carinhosamente chamado de Coelhinho, e que era para eu voltar mais tarde. Não sei por quê, mas achei que o escrevente estava com um tom meio sarcástico.

Metido a conhecedor, fingi de entendido, dei meia volta e fui em direção ao escritório. Nunca esse retorno do fórum demorou tanto, afinal, tinha algo estranho no ar.

Chegando na porta do escritório, pensei: Peraí, tem algo errado. Como falo para o Passarinho que o processo está na costura com o Coelhinho e quem me deu essa informação foi o Brasil? Não, isso não ia ficar assim!!!

Voltei ao Fórum com raiva do Brasil e querendo matar a porra do Coelhinho, que nem deveria existir, mas eu já estava com ódio dele, afinal, costurar um processo? Um Coelho? A situação estava tão feia que já estava pensando em suborna-lo com uma cenoura…..rsrs

Chego na serventia, para meu absoluto desespero, ela estava lotaaaaada. Como eu faria uma pergunta dessas? Aliás, fui pensando em como perguntar, tipo: “Brasil, avisa ao Coelhinho que o Passarinho quer o processo?” ou “O Coelhinho está?” Nada ficava bom!!!

Fiquei ali, na porta, esperando esvaziar, afinal, eu, sabichão, não podia perder minha fama de “local”.

Entrei…..veio outro escrevente, novinho, como eu era… perguntei: preciso falar com o Brasil. Ele respondeu, pode falar, sou eu!!! Poooorrrraaaa, tá de sacanagem!!!!!

Pior, ele também se chamava Brasil, era filho do Brasil pai, ou seja, o famoso Brasilizinho!!!!

Já escutaram essa frase: “o que é um peido para quem está cagado”? Pois bem, era eu nesse dia!!

Já sem muita saída, fiz, pausadamente, a indigitada pergunta: Kd a porra do Coelhinho???

Ele me responde: Saiu, deve estar morcegando por aí!!!

O que eu tinha, então, era um pedido do Passarinho, uma resposta do Brasil, uma tarefa inconclusa da porra do Coelhinho (que não queria nada) e o Brasilzinho, novo e malandro, caguetando que o Coelhinho estava morcegando.

Moral da estória: No Brasil, passarinho e coelho que acompanham morcego, dormem de cabeça para baixo!!!

Fui….

"Mineiroca" da gema, flamenguista de coração e advogado por paixão. Não sei cozinhar, não entendo de vinhos e não escrevo esses textos. Aliás, não sei nem o que faço nesse blog!!🤷🏻‍♂️🤷🏻‍♂️ Orapronobis....🤔🤔

5 Comments

    • Tarcísio PintoFerreira ok

      Eta Vinícius porreta! O causo além de hilário, nos reconduz aos balcões dos Cartórios e às agruras do início da carreira de advogado.
      Quantas dúvidas, quantos apertos,quantas perguntas que ficaram apenas nas gargantas?
      Processo na costura, santo Deus, o que seria isso?
      Também fui…

    • Marcela Lott

      Me deu muita saudade dos meus dias de estagiária , com os coelhos morcegando e os Djavans anunciando nos corredores ! 👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽 Fique no blog ! 😂😂😂😂😂

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