O “PRÁ” DE CINCINNATI E O “CRÔ” DE CHICAGO
É tempo de pandemia e, na Rede Globo, retorna a novela Fina Estampa, que traz o famoso personagem Crô, interpretado de forma ímpar pelo ator Marcelo Serrado. Aliás, alto lá!! Crô é para os íntimos, o nome dele é Crodoaldo Valério.
Pois bem, com o retorno da novela, me lembrei de minha primeira viagem internacional à trabalho. Fui, com meus sócios Fernando Fraga e Hebert Chimicatti, para os EUA, mais precisamente para Cincinnati, onde teríamos uma reunião com os advogados de lá.
Aqui é preciso abrir um parêntese. Antes de ir para Chicago, a cidade do Crô, preciso falar da reunião no escritório de advocacia americano. A reunião, com dois simpáticos e competentes advogados, transcorria normalmente, com Fernando Fraga rasgando seu perfeito inglês. Eu, com uma atenção mais que fixa que um prego…se passasse uma mosca, eu me perdia na conversa. O Chimicatti….Ah o Chimicatti….ele era um caso à parte. Ele não entendia a reunião, porém, era o conhecedor do caso, com todos os ricos e minuciosos detalhes. Aliás, o prescindível era eu, mas, fodasssss, fui também!
Sabe a tal mosca que se passasse eu me perdia? Pois é, passou!!! Fiquei então perdido e, quando olho para o Chimicatti, vejo que ele está pronto para sacar a procuração e os demais documentos que estavam todos na sua brega pasta estilo 007. Era só dar o comando que ele rapidamente sacava! Aliás, um detalhe, ele passou a reunião toda esperando por esse momento de triunfo, até porque, ele não estava entendendo nada. Sabe aqueles cachorrinhos de pelúcia que vendiam nos semáforos e ficavam com a cabeça balançando de acordo com o movimento do carro? Pois é, era ele na reunião!!!
Já perdido e não tendo como colaborar na reunião, comecei, então, a fazer sinais para o Chimicatti… tipo para ele abrir e começar o seu tão sonhado triunfo. Quando eu balançava a cabeça com sinal positivo, ele abria sua pasta…. “PRÁ” (esse era o barulho dos fechos se abrindo) e, imediatamente, eu fazia o sinal negativo, aí ele rapidamente fechava. Disse que me equivoquei, mas que era para ele ficar atento. Fiz novamente o mesmo ritual. Com meu sinal positivo “PRA” (eu nem precisava olhar para ele) e, imediatamente eu fazia o sinal negativo e ele fechava a pasta.
Bom, fiz isso umas sete vezes, até que os advogados começaram a olhar de rabo de olho para entender o que estava acontecendo, afinal, era “PRA” para cá, “PRÁ” para lá, até que o Fernando Fraga olhou meio atravessado, “dei com ombros” coloquei a culpa no Chimicatti e fiquei quieto. Reunião que segue….
A essa hora, só de lembrar dos “PRA” eu começa a rir. Esquece a reunião, esquece a concentração…..kd a mosca???
Fim da reunião, levantamos, agradecemos, fechamos a parceria e fomos embora… E a procuração e os demais documentos? Nada, não foram necessários! Agora, pensem num sujeito frustrado, pois bem, era o Chimicatti. Tanto “PRA” para nada. E ainda saiu da reunião me acusando, levianamente, de dar sete vezes o mesmo comando para o “PRA”. Neguei, obviamente.
Antes de ir para Chicago, eu queria fazer umas compras para minha pequena Bruna, então com 1 ano de idade. Fomos na Macy’s e compramos um tanto de coisa, inclusive um blazer lindo, que fiz questão de perguntar ao Fraga, sujeito chique, se estava legal. Ele prontamente falou: “Top… encaixou perfeitamente. Leva dois!” Quando fui pagar, vejo os dois cochichando, mas não dei muita bola.
Saímos da Macy”s e eu já com o blazer, afinal, segundo o Fraga, tinha “encaixado perfeitamente.” Foi quando ele, que vive numa prateleira de cima, começou a dizer que a Macy’s era loja de “carregação”, que eu pagaria mico com aquela imensa etiqueta dentro do blazer, que em Belo Horizonte as pessoas discriminavam quem usava Macy’s, etc, etc, etc…. No começo não liguei, mas de tanto ele falar, aquilo foi me incomodando. Detalhe: ele falou para eu comprar doissssss!!!!!
Como já tinha comprado e nem tempo mais de trocar tinha, pois, almoçaríamos e iríamos para Chicago, desencanei, mas não conseguia tirar o olho da porcaria da etiqueta.
Chegando em Chicago, depois de outras reuniões sem intercorrências, ou seja, sem “PRA”, chegou o final de semana na linda e ensolarada cidade “mais americana das grandes cidades”.
Acordamos e fomos passear, o que significa dizer, “tomar uma”. Fomos para uma rua chiquérrima, só de lojas de grifes, relojoarias, restaurante famosos…. e eu com meu Macys, achando que estava todo mundo me olhando e me discriminando (e o viado do Fraga martelando na minha cabeça).
Passamos, então, em frente à loja “Salvatore Ferragamo” e o Fraga lembrou que tinha que comprar uma bolsa para Juliana (mentira, era pretexto para entrar na loja). Entramos e a loja era de impressionar, a começar pelos vendedores com seus ternos impecáveis, provavelmente da Macy’s.
Imediatamente abriram um champagne para gente….. opa, aí começou a ficar legal. O Fraga começa a olhar os sapatos e, Chimicatti e eu percebemos que, quanto mais ele demorasse a escolher, mais champagne nos era servido. Acho que ele colocou uns 8 sapatos, um mais bonito que outro, mas, como queríamos beber, falávamos que não tinha ficado muito bem. Experimentou pastas, paletós, sei lá, fomos ficando bêbados.
O vendedor, esse era uma figura ímpar. Sujeito com faro bom… cagou para mim e para o Chimicatti e focou no Fernando. Era um rapaz simpático, educado, lindo e mais mulher que a minha. Na época, passava a mesma novela de agora da pandemia, a do Crô. Explicamos para ele a semelhança dele com o Crô, mostramos um vídeo, e ele se apaixonou!!! A partir dali ele passou a se chamar Crô! Era Crô para cá, Crô para lá….. Pedíamos para o Crô desfilar com as bolsas das Juliana, cantávamos, pedíamos mais champagne, uma verdadeira zona em plena Salvatore Ferragamo. Depois perde o visto e não sabe por quê?
O Fraga, depois de tanto champagne, foi ao banheiro e começamos a conversar com o Crô, que aliás, estava com lindíssimo sapato. Ele nos explicou que o Crô do Brasil iria adorar aquele sapato, pois era a última moda na comunidade gay, a chique, obviamente. Ele queria que eu levasse para o Crô do Brasil, como se eu conhecesse o Marcelo Serrado (aliás, depois de alguns champagnes, devo ter dito que era meu primo, sei lá).
Com quase tudo pronto para irmos embora e depois de umas 3 garrafas de champagnes, o Fraga volta do banheiro, olha para o sapato do Crô e diz “eu quero um desse”. O Chimicatti, puxa saco, já ia dizer que o sapato era última moda da comunidade gay, e eu, obviamente, não o deixei falar nada. Detalhe: o sapato era lindo e não tinha nada dessa estória de comunidade gay (se tivesse, compraríamos assim mesmo). Certamente o Crô americano me falou isto para eu levar meu primo “Crô” no Brasil, o tal Marcelo Serrado – tempo que não o vejo, até perdi o contato. Marcelão, me liga! Saudades!!
Assim que o Fraga passou o cartão, pedi para o “Crô” americano contar novamente a estória. Pensa num sujeito que ficou desconsertado achando que estava levando a última moda de calçados da comunidade gay (ele certamente estava cagando para isso, estava preocupado, obviamente, com nossa zoação).
Resumindo, além do mundo ser redondo, eu uso o blazer da Macy’s até hoje (ok, arranquei a etiqueta), o Fraga usa seu belo sapato (que já pedi de presente quando ele enjoar) e o Hebert até hoje está com a procuração, vai que um dia precisa!!!
3 Comments
Luciana Charbel
Viagem divertidíssima heim! Conseguiu me fazer imaginar cada passagem! Muito bom! Parabéns Vini!
Tarcísio PintoFerreira ok
E aí, Vinícius? Tô de olho, história muito legal e bem contada! Mas contrato que é bom mesmo vcs fecharam algum ou ficaram só no prá? Kkkk
CHIMICATTI
Essa foi inesquecível… muito bom o texto e a riqueza com que você lembra dos detalhes! Sensacional! Não consigo parar de rir!