Crônica

Régua imprecisa!

Resolvi quebrar a régua para ser feliz!

Tenho aprendido a desmedir…

Dei-me conta de que o primeiro passo para a felicidade é quebrar minha régua. Nada sei, e minha medida é apenas minha! Essa é a conclusão a que chego na maturidade. 

São as pessoas que me têm ensinado: meus verdadeiros amigos e, sobretudo, meus filhos e minha mulher (o desafeto também?). Todos têm me mostrado pela cartilha da generosidade, da empatia e compaixão. É isso que tenho aprendido. A razão não mais me seduz como antes.

Meu momento de vida é singular, mas não tenho reserva moral e nem sou a palmatória do mundo por conta dos meus problemas. Tenho, sim, sofrido por ter adquirido uma doença terrível que limitará minha visão e isso, por si só, tem me tirado o chão. Não é sobre isso, porém, que desejo falar, embora esteja nas entrelinhas e contextualize meu sentimento.

Estou a falar de certezas; certezas que me têm enganado: régua imprecisa…

Costumo contar uma história singela, porém pedagógica, que foi um divisor de águas em minha vida, ainda cheirando à fralda… Contava eu dezessete anos, pouco menos, pouco mais, quando disse à mãe de minha namorada que o sabão em pó que ela usava não era tão bom quanto o que minha mãe utilizava. Minha futura sogra, candidamente, perguntou-me o porquê. Sua pergunta foi tão sincera e sábia quanto reveladora: punha em cheque minha certeza. Essa por sua vez revelou-se frágil.

Por óbvio, minha vasta experiência de vida – dezessete anos –  era minha convicção: o uso do sabão pela minha mãe. Pergunte a uma criança se a comida feita pela mãe dela é gostosa. Jurará, ela, ser a melhor refeição do mundo. Sua ideia está fincada em sua experiência de só ter comido o que sua progenitora cozinhou. Portanto, sua falta de experimentação lhe dá a certeza.

Descobri, com essa passagem, que minha régua não era tão precisa.

Aquela dona de casa, sábia, quebrara minha medida. Não aprendi, entretanto. Por certo fiquei, talvez, em alerta latente. Desconfiado segui, impondo, ainda, meus precisos parâmetros, porém…

Senhor da razão tenho sido desafiado. Minha certeza agora repousa na incerteza de vários pontos de vista. Em sua maioria, são as tais réguas cujas convicções são as idiossincrasias de cada um. A depender de quem meça, cem centímetros não são um metro. Ponto! E daí?

Hoje percebo que a silhueta da felicidade impõe-se quando aceito que, embora um metro seja um metro, as réguas que o medem são diferentes da minha…

Um humanista um pouco bravo.

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