Opinião

Eu, dentro de mim…

O grande Mário Quintana, quando perguntado se temia a morte, disse ter muita vida dentro de si. Isso me tocou fundo e achei lindo  O eterno, por certo, aquele escritor carregava com clareza.

Refleti sobre esse sentimento de amor à vida e sobre a incerteza da não existência e o que tenho dentro de mim para poder amar tanto a vida, a exemplo de Quintana. A resposta não é simples. Invejei o escriba, confesso.

Dentro de mim há a imensidão escura do universo inexplorado… o agudo da dúvida a ecoar a sua nota mais alta do por quê.  Não percebo a eternidade em meu ser. Sei porém, meus ouvidos e minha verdade não são absolutos!

A ideia do  permanente, do contínuo, me parece combinar com o pós morte; com a vida após a morte. Não seria muita soberba? Sou, em mim mesmo,  infinito, eterno? Acreditar nesse conceito não seria negar que somos finitos, escamoteando nosso temor de não mais existir?

É certo que nossa inteligência é pródiga e cria subterfúgios para nos aliviar a certeza de que, em algum momento, não mais existiremos, reforçando nossa arrogância de que tudo podemos, até mesmo vencer a morte ganhando uma nova vida… as teorias são muitas: do atomismo ao espiritismo avançamos em busca de aquietar nossa mente, na esperança de que possamos encontrar os porquês da existência ou de seu contrário.

Não creio, Quintana tenha querido se apoiar na soberba para negar sua finitude. É possível, mesmo, que ele acreditasse nessa ideia. E que, de tão apaixonado pela vida, e tão sábio, acreditasse na eternidade. Que a vida seguiria seu curso ad eternum , através de seu espírito…  Poderia, ele, até mesmo, não estar querendo nada negar, mas e sobretudo, apenas nos ensinar  o quanto a vida é valiosa e o tanto que a amava; e que nada mais era importante, dando de ombros para a morte. Quem sou eu para fazer juízo de valor?  Talvez eu nem o tenha alcançado em sua profundidade simples de encarar o inexorável. O questionamento é para comigo mesmo que não sou enamorado da existência, tampouco da não existência e, ainda, pouco sábio…

Fato é que, viro-me do avesso e continuo a explorar-me em busca de um tantinho de vida eterna que abunda ao escritor, que não cria na ideia de sua finitude. No entanto, quanto mais vasculho meus rincões, mais me encontro eu, dentro de mim…

Um humanista um pouco bravo.

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