O visionário, a inauguração e a viagem que não terminou…
Tudo ainda estava para terminar quando Fernando chega para a inauguração da Ferreira e Chagas Advogados -filial São Paulo. O sol, como um ponteiro de relógio, nos informava estarmos perto do meio dia.
O evento seria naquela mesma noite. Fernando sem titubear fitou-me como quem dá um aviso inequívoco de que não aceitaria pagar nenhum mico frente a uma centena de convidados que viriam nos prestigiar. Naquele momento entendi o que era estar no corredor da morte.
⁃ Fique tranquilo Fernando. Dará tudo certo! Bora almoçar.
Outro dardo saiu dos seu olhos claros a reafirmar que um erro seria fatal. Não nos conhecíamos muito bem e esse episódio nos revelaria, tempos depois, que nossos caminhos seriam, no mínimo, divertidos e, no mais, absolutamente desafiadores.
Nosso relógio, agora apagado, nos indicava que a hora da verdade se impusera: convidados chegando; cinco músicos a dar boas-vindas a todos com um som incrível e uma filial que parecia ser o Petit Trianon, o pequeno castelo de Versailles que servia a Luiz XV para seus encontros furtivos com sua amante Marquesa de Pompadour. Tudo saiu da melhor maneira possível. Não houve um senão sequer. Bingo! Os olhos claros, agora, me olhavam com gratidão. Eu? Mais do que orgulhoso. Aliviado.
Missão cumprida, convidados encantados, decidimos terminar a noite com um jantar numa cantina no Jardins. Contava mais de onze horas da noite.
Fernando convidou a mim, Solange e mais algumas pessoas do escritório de Belo Horizonte, contando com Juliana, sua esposa, seu pai e esposa, e outros casais que se tornaram nossos amigos tempos adiante. Além de seu principal sócio à época: Marquinhos. Figura ímpar.
Jantar posto, brindes, ar de festa. Orgulhoso por avançar com uma filial em Sampa e com mais de cem pessoas a nos prestigiar, Fernando traçava o futuro. Com o tempo aprendi a conhecê-lo. Naquele momento porém, tive o primeiro sinal e uma leve percepção de que lidava, eu, com um estrategista. Visionário e ousado o suficiente para pagar pra ver e, no caso, conhecer pessoas, somado ao seu faro para lidar com elas, Fernando dispara um convite à queima roupa:
⁃ Alexandre, vamos para a Europa em agosto?
Faltavam poucos meses para agosto. Rápido tentei imaginar o que significaria aquele convite. Afinal não nos conhecíamos para fazermos uma viagem dessa envergadura. Lembrei-me da máxima que para se conhecer alguém deve-se viajar com ele.
Entendi o recado e o que aquele visionário queria. Só não sabia aonde, exatamente, estava me metendo. Certo é que minha alma beligerante adora um desafio e, corajosamente, aceitei. Solange vibrou com a ideia. Em agosto partimos!
Com antecedência eu e Solange chegamos em Amsterdã. Nosso encontro com o casal Fernando e Juliana seria em Paris cinco dias depois.
A estada em Amsterdã, tirando a novidade que uma viagem a outro país proporciona, foi apenas curiosa. Porém, do ponto de vista de estar na Europa e com minha melhor companhia, Solange, foi maravilhoso.
Dias chuvosos e meio cinzentos nos aplacaram um pouco a expectativa de uma cidade que nos parecia fabulosa. A viagem, porém, ainda não havia começado. A perspectiva agora era a charmosa Paris e como seria passar mais dezoito dias com alguém que não tínhamos tanta intimidade. Bem, eu não tinha. Solange já conhecia, ao menos, o Fernando, há alguns anos quando gerenciava, por meio de um banco, o escritório em BH. Havia uma outra importante variável e se chamava Juliana: a esposa. Uau! Tenho comigo que se duas mulheres não se bicarem… esqueça! Não há perigo de qualquer coisa dar certo. Que dirá mais de duas semanas juntas no velho mundo…
Após vasculharmos o bairro da Luz Vermelha, perambulando por restaurantes, praças, museus e sex shops, algumas compras e muitos vinhos, partimos para a cidade luz.
Não à toa Paris tem essa alcunha. Pois como li em algum lugar um dia, intelectuais de todos os lugares e naipes, estudantes, homens e mulheres de negócio atraiam-se para aquela cidade como insetos atrás de um feixe de luz. Logo…
Amsterdã ainda me remete à uma incipiente saudade. Em algum momento teremos que voltar lá. Talvez fazer as pazes perdoando-a pela recepção quase que tediosa e ainda me desculpar por não ter percebido sua silhueta escondida numa saia meio fúnebre de um tempo cinzento em uma semana chuvosa.
Finalmente nos encontramos com nosso casal amigo, e Paris, suntuosa e esperta, fala às nossas almas que roubaria, para sempre, nossos corações…
Ela tinha razão! Nossa jornada inicia-se auspiciosamente para dois casais que mal se conheciam.
A cidade luz nos proporcionou tanto que precisaremos de um capítulo à parte. Como disse, no título: …a viagem que não terminou… pelo menos aqui nesse espaço. Aguardem-nos e a Paris também…
Alexandre
26/06/2020
One Comment
CHIMICATTI
Muito boa lembrança e bela descrição da trajetória de uma viagem que ainda irá muito longe, tenho certeza! 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻