Crônica

A máquina de escrever

Inauguro minha máquina de escrever. Para um romântico, como eu, começo mal. Meio sem graça e pouco criativo, começo. Há de se aquecer o cérebro. Fico um pouco decepcionado: apesar dos recursos que a máquina possui é um tanto barulhenta – elétrica.

Escrevo acariciado pelo som de Neil Diamond – Live in America. Indescritível: como o encontro das águas. Deve-se ver; no caso de Diamond: deve-se ouvir. Ouço, agora, Play me. Divirto-me sozinho…

Eu e minha metralhadora, sofisticada, continuamos. Ela às minhas ordens. Mas… nada escrevo que se aproveite: apenas registro minha inauguração e penso na vida.

Lembro das Marias e das Marias que não as conheci. Lapso de romântico? Espero que não seja de raciocínio também…

Um amigo me vem à cabeça: com que Maria deve-se encontrar agora?

Nesse momento Whitney Houston é quem a minha alma acaricia. I have nothing: eu também. Some as sete maravilhas do mundo e encontrará a voz dessa diva. Ouvindo essa deusa e com um pouco de competência, deixaria Drummond com inveja: e agora Alexandre? Que Deus o tenha; e longe das santas. Depois de Amor Natural – seu livro póstumo, não ponho a mão no fogo pelo velhinho não…

Ah, Drummond…Tivesse eu milésimo avos da sua genialidade e nada dessa página teria escrito.

“Mísera! tivesse eu aquela enorme; aquela claridade imortal, que toda luz resume!… por que não nasci eu um simples vagalume? Este é Machado de Assis. Leia-o e veja o sinônimo de perfeição. 

Plagiando o escritor: Mísera! Por que não nasci descendente desses lumes?

Minha companhia agora é a preguiça que, ao sono, vem de mãos dadas. Vá lá: meia página… é o que há para o momento. Bem ou mal essa tranqueira está inaugurada.

Diamond e Whitney, valeram as companhias. Outras noites virão e, com certeza, ao som de suas vozes tingirei mais algumas folhas…

Alexandre

01/10/1994

Um humanista um pouco bravo.

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