A qualidade e o mindfulness do Macedo.
Acordo cedo e me dirijo para o trabalho. Trânsito e aquelas coisas todas que todos conhecemos: motoqueiros nos desafiando, motorista fechando motoqueiros, bicicleta no meio da pista, carroça, skate, o diabo de uma manhã de trânsito em Sampa. Difícil é explicar como gosto dessa cidade maluca e de malucos que a habitam – eu incluso. Vá lá: tempos atuais….
Chego na empresa. É minha primeira semana; integração e tal. Lembrei, porém, que nesse dia meu destino seria a fábrica em Bragança Paulista e não no escritório em São Paulo. Pior, até Bragança é, no mínimo, hora e meia só de estrada. Lembra aquele trânsito? Pois é. Uma comichão me subiu iniciando nos pés e indo parar no cérebro. Fui acometido por uma raiva de mim mesmo, insuportável. Já sentiram isso? Não chegaria no horário marcado e havia pessoas que tinham reservadas suas agendas para me atender. Parei um instante para pensar e decidi pegar um café na copa. Outro engano: derrubo a garrafa e faço um estrago enorme. Foi a gota d’água pra explodir. Minha vontade foi defenestrar a copa toda. Mas janelas lacradas, pelo alto andar que estávamos, não me permitiriam, mesmo se louco eu tentasse. Um anjo da guarda, no entanto, apareceu e com sua fala mansa, de quem tem a sabedoria do que de fato é necessidade e problema na vida e me disse:
– Calma rapaz. Vou te ajudar. Nunca te vi aqui: você é novo na empresa? Envergonhado respondi que sim. A senhora da limpeza me sorriu e finalizou:
– Deixa comigo. Vou limpar aqui e depois te levo um café. Mais uma uma vez tive vontade de defenestrar algo; só que dessa vez era a mim mesmo.
Constrangido liguei para o gerente de qualidade da empresa que me aguardava na fábrica em Bragança Paulista. Desculpei-me lamentando meu equívoco. Também sábio e para aliviar minha culpa disse-me ele:
– Relaxa, Alexandre. Vou te dar uma dica: qualquer coisa que aconteça aqui na empresa jogue para mim, afinal a culpa sempre será da qualidade…
Soltamos uma gargalhada ao telefone e nos despedimos.
O gerente sábio ensinou-me que o humor inteligente e buscar o equilíbrio podem nos ajudar a resolver alguns problemas, não tão graves assim como sempre achamos que são.
Essa estória passou-se em 2.000. Estou aqui pensando: será que o Macedo – aquele gerente (da qualidade) sábio – foi o precursor do mindfulness?
Sei não!
De qualquer sorte, ligarei para ele: quero saber por que diabos ele deixou esse vírus entrar no Brasil.
Alexandre
23/04/2020