O taco solto …
Virou a última página do livro. Havia sido uma história interessante. Lia e comparava sua vida com as nuances de um vai e vem de felicidades e angústias. Terminou: reflexões…
Quis relaxar-se; um cigarro acendeu tragando-o profunda e lentamente. As lembranças chegavam rápida e compassadamente com as batidas eloquentes de um coração aflito.
Na cabeça, uma mulher: linda mulher; pele morena, macia e vistosa, mostrava o prazer tatuado num corpo que falava exalando sensualidade pelos poros…
O decote lhe caia bem; sensualmente tornava-a ainda mais presente em sua memória. Quanto desejo. Como se não bastasse , sua alegria e charme eram encantadores. Gestos radiantes formavam uma coreografia singular. Sem a pretensão de fazê-lo, impunha-se naturalmente…
Quanta paixão… quanto desejo…
As lembranças continuavam a lhe maltratar. mas com uma carícia leve, como a brisa que toma corpo até virar ventania. O cinzeiro denunciava uma compulsão cheia de bitucas. Pensou num café e como poderia parar de pensar naquele amor impossível. Parar de lembrar, porém, doeria mais que a saudade. Não, não é verdade: da saudade não se escapa. No café não haveria problema. Outro cigarro. Por um segundo surgiu-lhe uma ideia: olhou o telefone; no cérebro buscou o número desejado. O coração deu a resposta: sete dígitos. Dedilhar as teclas do aparelho era estar à margem de uma decisão sem volta…
Desligou: do quarto ao corredor, um barulho. Outra lembrança…
Não fosse o taco solto a registrar a presença de alguém. o telefone, a ligação completaria…
Alexandre
18/06/85