O pipoqueiro da pracinha.
A música espargia no ar. Em meio ao verde exuberante a mostrar uma beleza virgem, o som da vitrola acompanhava a sinfonia dos pássaros que tinha como maestro a mãe natureza…
O coreto no centro da praça mostrava a paz cercada de harmonia e pessoas enamoradas. Na algazarra das crianças, nos rostos apaixonados dos adolescentes e na saúde dos velhos estampavam-se a caricatura do costume tranquilo e fraterno de viver em paz.
O Sr. Juvenal, ainda me lembro, chapéu e terno brancos, percorria a praça e em frente aos poucos degraus do coreto punha-se a ganhar a vida. Era mais um a fazer parte daquela orquestra. De sua panela, em seu carrinho de pipoca, ecoava um som característico e, como mágica, surgiam flocos de nuvens salgadas cheirando a manteiga a nos dar água na boca.
Pipoqueiro de profissão, Sr, Juvenal, era amigo de todos: das crianças ao reverendo da paróquia construída em frente a praça; ganhava a vida singela e cordialmente. Vendia suas pipocas e não se furtava em alimentar alguns pombos e pássaros a rodearem seu carrinho. Era o Sr, Juvenal: simplesmente o pipoqueiro da pracinha.
Certo dia, Sr, Juvenal distraiu-se e afastou-se um pouco do seu carrinho. Foi uma experiência que o simpático velho aprendeu a ter mais cuidado. Quando voltou percebeu que as crianças tinham se apossado do seu carrinho e, suas pipocas, imaginem, dadas aos aos animais voadores que, agora, preferiam por ficar no chão e a ciscar o flocos salgadinhos. Um verdadeiro banquete.
Com o passar dos anos a tranquilidade foi dando lugar a uma nova ordem de coisas: prédios foram construídos; a praça diminuiu de tamanho e o coreto quase desapareceu. A evolução diminuiu a importância do pipoqueiro cujo terno puído e já amarelado pouco era, agora, percebido, A harmonia não se retratava mais frente àquele homem maltrato…
A propósito: onde estão as praças? As árvores e seus pássaros? Os coretos onde ficam? E as crianças, onde estão?
Alexandre
Ano: 1982