O Pinto e o bigode
Bei Gott!
Não por acaso escrevo uma expressão que, segundo a história, causava estranheza a quem ouvisse essa interjeição germânica, falada pelos alemães que viviam na Península Ibérica: “bei Gott!” significa por Deus;. Sem que entendessem seu significado, os ibéricos apelidaram os bigodudos alemães de bigod. Aportuguesada a palavra traduz esse apêndice peludo de variadas formas, tamanhos, estilos etc que vários seres masculinos se predispõem a usar. Algumas mulheres também, vá lá….
Até aqui nenhum problema. Bigode é bigode e ponto. Mas terá esse adereço natural e peludo o poder de provocar reações inusitadas capazes de me fazer lembrar-me do meu pinto? Calma! Não há nada de mal em me lembrar do meu pinto. Pinto não é, senão, um órgão. E, como homem, o possuo. Simples assim. Desculpo-me com os mais pudicos: não há nada, porém, que venha pela frente, a causar constrangimentos. Bigode é bigode e pinto é pinto. Certo? Mais ou menos, a depender do ponto-de-vista…
Há poucas semanas resolvi inovar comigo mesmo. Dar um tapa. Mudar a cara; sei lá. Olhei para o meu pinto – sim, todo homem flerta com seu próprio pinto; embora alguns, é sabido, flertam também com o pinto alheio; cada um com suas escolhas, há que se respeitar. Voltando ao assunto, olhei para o meu pinto e, após alguns segundos, pensei que não seria tarefa muito fácil inovar com ele. Então, olhei-me no espelho… pensei… reparei meu rosto… encontrei minha careca… observei meu nariz, boca, orelhas e, subitamente, deparei-me com a mesma conclusão a que cheguei sobre meu pinto; ou seja, não seria tarefa fácil inovar. Plástica? Muito radical, dolorida, cara etc. Baixei a cabeça. Olhei meu pinto novamente… nada, nenhuma ideia.
Bei Gott! Exclamei. O bigode. Sim, o bigode. Por que não? Bastava uma tesoura, navalha, aparador, sei lá… Seria fácil, realmente fácil. Decidido comecei a acariciá-lo com as pontas dos dedos. Relaxa: estou falando do meu bigode, lembra? De uma ponta a outra, no início, com apenas uma mão e, em seguida, com as duas. Uma mão para cada ponta do meu bigode. Minutos depois, ei-lo: dali estava. Quero dizer, ali estava; desculpem o trocadilho (não resisti). Um novo molde. Um novo bigode. Meio Salvador Dali – fake – meio conservador, antigo… mas ali estava meu novo bigode. Gostei! Voltei-me novamente ao meu pinto e, orgulhoso, desafiei: viu? E com espírito vencedor, satisfeito, deixei o espelho a sós.
Qual não foi meu espanto, apareceu-me meu primeiro sensor: minha mulher, que ao deparar-se comigo pergunta: O quê é isso? Minha reação imediata não foi outra a não ser olhar para baixo e procurar meu pinto novamente. Verdade. O espanto dela foi tamanho que não me remeteu, senão, a ele. Por quê? Ora, porque eu só poderia estar com o troço de fora para tanto espanto. Mas não. Encontrava-me vestido normalmente. Então demorei alguns segundos para dar chance à razão me acudir e entender o que havia acontecido, já que com o dito cujo estava tudo ok. Mas não tardou para que minha própria mulher revelasse sua comichão. Era o bei Gott. Aquela germânica interjeição falada pelos seus bárbaros e que os ibéricos não entendiam e que, também eu, não estava entendendo. Resultado: era o bigode. Numa costumeira gargalhada e chamando-me de louco acusou minha ousadia e seu inconformismo com minha inovação facial: horrível!