O homem que chupava chupeta.
Em seu mundo acambetado, o homem enxergava tão distante quanto um recém-nascido…
Dizia, aos quatro cantos, que achava a vida muito cruel; era mesmo, viver, em sua opinião, uma tarefa árdua; tantos eram os problemas: fome, miséria, xenofobia, acidentes naturais, tráfego de humanos, ódio, racismo, corrupção, doenças…ufa!
Sua ladainha listava os infortúnios que a existência teimava em lhe apresentar; continuava ele a debulhar lamentações e a reclamar de tudo. O copo sempre estava meio vazio ao seus olhos – preto e branco – acostumados a observarem a vida com a perspectiva de uma minhoca enterrada na terra.
Esperta, a vida se lhe apresentou travestida de morte e, num flerte ameaçador, lembrou ao homem que ela, a vida, nada mais é do que a morte em doses homeopáticas…
O varão, assustado, se pois a suplicar à todas as forças divinas, por sua alma. Não deveria ser a hora de seu passamento; não queria que fosse: implorou.
A vida, ainda fantasiada com suas alegorias do fim, questionou:
⁃ Ora, ora… não era sem tempo: não é a vida demasiada cruel, para não se querer morrer?
⁃ Não!!!
⁃ Não?
Recado dado, a vida retorna ao seu normal. O homem? Largou a chupeta…
Alexandre
06/2/2020