Que se danem nossos pais!
(“Quero ser feliz. Mas não ter esse trabalho horrível de me fazer feliz.” Clarice Linspector).
Para vocês que ainda colocam nas costas dos pais seus problemas e frustrações, chega: danem-se nossos pais.
Cresçam!!!
Se a unanimidade é burra, a generalização é uma mula. Portanto, minha conversa é para aqueles cujos pais se enquadram dentro do limite razoável do que é ser humano. Para aqueles que sofreram com pais crápulas e psicopatas também vale; com ressalvas.
Pois bem, danem-se nossos pais. Pelo amor de Deus, parem de imputar culpa aos pais. Está na hora de olhar as circunstâncias históricas e “perdoá-los”.
Pais são como entidades. Acreditamos em suas santidades quando na verdade eles não passam de seres humanos. No largo espectro dessa condição, humana, por isso imprecisa, são eles frutos de erros e acertos de seus respectivos pais; e por aí a vida segue, como uma rosca sem fim de erros e acertos….
Estou cansado de ver filhos inconsequentes ou desajustados, que crescem culpando os pais pela estreiteza de suas vidas. Não obstante as oportunidades que bateram às suas portas, não avançaram e negligenciaram em suas escolhas, levando a vida no limite da insensatez ou da irresponsabilidade.
Por vezes preguiçosos, por outras rancorosos, e, ainda, mimados, não enfrentam os desafios inerentes a difícil tarefa de viver. Não assumindo responsabilidades colocam seus fracassos na conta dos pais. Criticam governos, escolas, chefes, o capitalismo, o casamento e por aí a fora. Mas não são capazes de tirarem seus pratos da mesa, abrir um jornal, ler um livro ou se dedicar ao estudo pago, à duras penas, pelos “incompetentes” pais que, por vezes atônitos, não sabem onde erraram e não sabiam que estavam errando.
Prestem atenção: reconheçam o quanto esses seres avançaram em suas histórias. Quem foram e como eles viveram? Quem foram os pais deles e como os criaram? Como era a época em que viveram?
Está na hora de vocês tomarem rumo. Perceberem o entorno, entenderem o que é empatia e compaixão. Assumirem suas vidas. Não venham com essa estória de honrar os pais, só na teoria, sem entenderem suas idiossincrasias e seu tempo, sua época e limitações. Nem acentuem a cor da grama do vizinho achando que ela é mais verde e, portanto, os pais dele são melhores do que os seus. Vocês nada sabem a respeito e ninguém é melhor ou pior do que alguém. São as circunstâncias diferentes…
Sem querer, descobri em uma conversa, de an passant, com meu querido pai que ele queria ser marinheiro. Não foi! Qual teria sido o impacto em sua vida por não ter logrado êxito em sua empreitada? O que o impediu de sê-lo? Você já perguntou ao seu o que ele queria ter sido? E o porquê de não ter alcançado seu objetivo?
O fracasso do meu, nesse quesito, pude entender: teve que sustentar sua casa, aos onze anos, porque seu pai se perdia em apostas em jogos de azar e pouco parava em casa.
Ora, fosse meu pai se vitimizar pela fraqueza do seu, não teria me criado ou de mim teria feito homem raso. Fato é que sessenta, setenta anos atrás, não havia psicólogos, às pencas, como hoje há, e nem tempo meu pai teria para sofrência e discuti-las com alguém, pois que a casa tinha que sustentar.
Por óbvio que por essas e outras meu pai formou família, teve filhos e errou em várias coisas! E daí? Quem, nessas circunstâncias acertaria? E, dentre tantas outras, o quanto acertou?
Não há mais espaço para tergiversar com a vida.
Por fim, a vida está difícil? Que tal um papo reto? Pois, atualmente a psicologia está disponível, e com menor custo que os destilados que vocês tomam, e deixem os pais em paz!
Alexandre
12/07/20
5 Comments
Chimicatti
Denso e precisa análise sociológica, tangenciando a antropológica! Muito bom! Parabéns, Câmara’
Alexandre Câmara
Obrigado, Chimi. Abraço.
Chimicatti
Densa…
Carlos Macedo
Conteúdo um tanto singular, o pensamento correto, o tempo exatíssimo, a forma profissional, indução à busca do dicionário ótima.
Gostei.
Alexandre Câmara
Valeu, amigo. Abraço.