“Ostra feliz não faz pérola”
Em seu livro Ostra feliz não faz pérola, Rubem Alves escreve uma crônica maravilhosa: nela ele conceitua que para ouvir ao outro é preciso ser humilde.
Não li o livro; li a crônica e fui atingido em cheio na minha arrogância. Percebi o quanto sou, muitas vezes, aparatoso.
Magicamente, porém, o escritor me fez ouvi-lo e ouvindo-o refleti: por que achamos que a nossa verdade é absoluta? Por que ao ouvirmos alguma opinião não paramos para pensar a respeito sem que vomitemos nossa certeza?
Falta-nos empatia, compaixão? É nossa ignorância a nos dominar? A falta de humildade colocada por Rubem Alves?
Em tempos de extremismo e polarização exacerbados em todas as frentes, não nos damos conta do nosso ímpeto arrogante de discordar por discordar. O que vale é a crença individualista, cética e arrogante que, parece, nos faz acreditar ter razão frente ao outro.
Meu irmão, cético, cunhou uma frase dura, em outro contexto, que me fez pensar. Disse ele: o ser humano desceu das árvores há poucas semanas? Será?
Como falávamos por WhatsApp consegui ouvir sem refutá-lo, de cara, exercendo minha capacidade de ser humilde, graças a tecnologia…
Evoluímos tão pouco assim? Terá meu cético irmão razão?
Pois bem, Rubem, o escritor, me fez ir além: seria o silêncio a prática da humildade a nos tornar mais ouvintes?
Certa feita, um amigo querido, me disse: quem fala muito não quer, exatamente, dizer nada. Certamente parodiando Rubem: “A verdade mora no silêncio que existe em volta das palavras”.
Dai pergunto:e o escutar pouco, o que pretende? Ter razão?
Por quê? Para quê?
A arrogância de mãos dadas a ignorância nos alimenta por certo. A humildade a que se refere nosso grande escritor só é exercitada pelos mais sábios, como ele. Aos ignorantes, como eu, é preciso treino, ouvir, silenciar, refletir, ter empatia…
Não concorda? Bem-vindo ao clube.
Alexandre Câmara
10/04/2020