Crônica

A arte e o prazer de escrever

Tiro cor da palavra velho, que carrega certa pecha por indicar a ideia de decadência e vulnerabilidade, dizendo que estou distante da minha tenra idade…

Um disfarce poético de um apaixonado pela boa escrita que empresta de Pedro Nava – contemporâneo do nosso maior poeta, Drumond – a sentença que dizia:  “acaricie uma frase e ela sorrirá  pra você”. Truques de quem aprecia um texto, mais do que correto, harmonioso, criativo, que faz da alma a folha de papel que acomoda as palavras como uma barriga de aluguel que gesta um texto sedutor. Embora creio, Nava, talvez, nunca usasse o termo “pra” e sim “para” (acredito que o lapso é meu). Em seu tempo dizer que a língua era viva não dava licença para ousar tanto. Vivesse, atualmente em tempos cuja comunicação abusa das abreviações e quase nos faz retornar à época das cavernas por meio dos emojis, de sorte em aplicativos ao invés de paredes subterrâneas, não hesitaria, Nava, em se matar pela segunda vez. 

Garimpando palavras busco sinônimos, termos e construções que me permitem provocar, pretensiosamente, emoções em quem lê. Preciso confessar que a estrutura gramatical é intuitiva apoiada em hábito de leitura que tenho. Leio observando, por primeiro, a forma estrutural e gramatical de quem escreve, para então me preocupar com o significado e a mensagem. Talvez haja uma simbiose aqui, pois imagino que o entendimento só é possível por meio da gramática. Para mim é, porém, intuitivo. Não tenho domínio da língua portuguesa como gostaria e como um bom escritor deveria ter. Desconfio, pois, acertar mais do que errar. 

Certo é que escrever me relaxa e me leva por uma viagem de encantação, sedutora. 

Imagino, soberbamente, o leitor da minha mensagem. Quero toca-lo, seduzindo-o como que em busca de ium prazer viciado cuja droga é a palavra, a frase, o texto bem construído, a metáfora criativa, esclarecedora e assertiva.

Torno e retorno em cada frase, em cada verbo, em cada expressão, dando voz ao meu sentimento no ato da criação e pensamento. 

Como uma rosca sem fim não quero parar e viajo para um destino que encontre alguém do outro lado que se identifique e que viaje comigo.

Por último, parodiando Nava, devo acariciar o texto para que o desfecho me sorria. Só não sei o que fazer com a rosca sem fim… 

Alexandre Câmara

12/12/2019

Um humanista um pouco bravo.

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