Crônica

Equação de alto grau.

Um lapso de nostalgia e a lembrança de um amigo. Como um terrorista o telefone insulta-me à uma ligação. Explode um número conhecido e pego o aparelho. Inevitável: talvez não seria o número ideal. É um amigo, mas…

Fantasmas: há tempos não nos falávamos e, a última vez, eu o procurara. Pequenez? Talvez. Arrogância do cotidiano, cuja trégua é o isolamento. Frustração. Outros dígitos a memória vasculha em seus infinitos mistérios. Outro amigo; outro fantasma. Deixa pra lá; poderia convidá-lo para uma cerveja; jogar conversa fora. Ruminaria minhas expectativas, ouviria as dele. Fortaleceríamos as metáforas e redundâncias, não importa. Veríamos-nos novamente; capricho não há numa amizade; não deveria haver, pois não. Relâmpagos clareiam minhas lembranças e o som de um trovão ecoa em minha alma. Alma só! A espera daquele amigo. 

A equação se impõe à vida e a resolução exige conhecimento, humildade e empatia…

Na experiência repousam as incógnitas das relações de amizades. O exercício ao longo do tempo é que nos dará a compreensão. Enquanto o tempo não passa e o conhecimento não vem, o telefone terrorista continua a insultar-me; mas mantém-se calado: não toca nem aqui, e quem sabe, lá. Continuo eu a tocá-lo, porém, sem saber ainda para quem ligar…

Alexandre

27/03/1992

Um humanista um pouco bravo.

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