Escrevi porque o quis!
Restava pouco tempo de vôo. Certa turbulência e pensamentos. Pensei o que dizer para mim mesmo, pois, que de súbito, desejei escrever.
Li certa vez que Graciliano Ramos havia dito que escrevia porque era forçado a fazê-lo. Como questionar escritor de tal monta? Mas não creio!
Escrevemos para dizer algo ao mundo, talvez na esperança de explicá-lo a nós mesmos – quem escreve.
Arrisco dizer que escrever é refletir, no papel, os tormentos e aconchegos da alma. Ainda que haja convicção no assunto é no papel que depuramos com mais exatidão o que está lá em nosso âmago. Assim percorremos os caminhos do nosso conhecimento e desconhecimento, do nosso ser e estar, do tempo e do espaço, da velocidade e do movimento lento; enfim, exercitamos nosso pensamento de nosso mundo dual; mas que de dual, talvez, só em nossos pensamentos; esse certo ou errado que nos assombra e transcende nossa alma cravejada de dúvidas, certezas, mistérios…
Aqui estou eu, no longo espaço de cinco minutos de vôo até encontrar chão e pensamento firmes novamente. O auto-falante anônimo anuncia o fim do trajeto. Despeço-me de mim mesmo. Peço desculpas a Graciliano e digo: escrevi porque o quis!
Alexandre
29/03/2000
(21h15m – momento do pouso em BH)