Causo,  Literatura

Inferno

Contou-me, meu velho pai, Luiz Chimicatti Netto que, certa feita, um de seus convivas do interior de Minas Gerais, Ezequiel, degustando uma boa cachaça no balcao do bar do Zé de Alaíde, em Monte Azul, cidade do norte de Minas e “ponta de linha” da RFFSA por aquelas bandas, por ocasião de uma de suas milhares viagens como “chefe de tren” lhe confidenciou que estaria sendo assediado pelo “capeta”.

Indignado, o velho indagou ao seu amigo sobre os porquês do assédio e o porquê já não havia denunciado à Deus tamanho abuso do “coisa ruim”.

Tratando logo de responder à forte indagação, revelou, o assediado Ezequiel, que o “cramulhão” estaria lhe proponto a aproveitar a vida e que, por isso, há 30 anos atras, teria feito o primeiro contato com tal proposta.

Recusou a oferta, pois, apesar de ter tempo, era jóvem e tinha muita saúde, mas não tinha dinheiro, pois, era muito pobre e estava no início de sua carreira.

Passados 10 anos da primeira tentativa de aproximação, novo contato houve com o mesmo assédio: novo convite para aproveitar a vida. Nova recusa, mas daquela feita, tinha muito dinheiro, pois, estava no alge de sua promissora carreira, tinha muita saúde, porém, não tinha tempo algum, já que se encontrava muito atarefado com suas várias atividades profissionais.

Meu pai, então, logo tentou intervir dizendo-o que, se houvesse um novo contato, que o amigo não devesse recusar, pois, a vida seria uma só e ele deveria encontrar uma maneira de aceitar a proposta do “demonio”.

Qual não foi a sua surpresa, quando o seu amigo, então, cabisbaixo disse-lhe que dias antes daquele diálogo, havia tido novo contato feito pelo “sazafrá”, proponto-lhe, pela terceira vez, que fossem aproveitar a vida. Com muita tristeza, disse Ezequiel que negou o convite mais uma vez, só que dessa vez, talvéz pela útima, pois, tinha muito dinheiro, tinha muito tempo disponível, mas não tinha mais nenhuma saúde…

Meu pai, então, solidário àquele relato infernal, tratou de se despedir do amigo e, rumo ao seu “carro dormitório” da composição de trem que partiria logo cedo de volta à Montes Claros, passou a compreender o quanto a vida poderia lhe ser curta se não a aproveitasse e que, talvéz, muito católico que era, jamais receberia o convite de tal figura desgarrada do céu e, por isso mesmo, tratou de “aproveitar sua vida” ! Ocorre que, ainda novo, já sem saúde e ainda sem dinheiro, foi convocado, em caráter de extrema urgência ao Céu, talvéz, quem sabe para ser uma testemnha ocular das indecorosas propostas que o “rabo de seta” esteja fazendo pelo mundo dos vivos…

Apaixonado pelas palavras, pela advocacia e pela vida regada a um vinho!

One Comment

  • Alexandre

    Chimi
    Incrível esse causo “Inferno” . Além de mostrar o quanto temos que ter equilíbrio na vida e sua respectiva época, nos fala de seu tão querido pai.
    Muito bonita a forma como “justifica” a precoce partida de seu pai. Fiquei comovido.
    Parabéns.

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