Aplausos

Homenagem a um grande amigo!

Segunda-feira, 7:30 da manhã, estou acordado criando coragem pra sair da cama. Me sinto cansado. Não dormi bem esta noite. Coisa rara. Estou sentado na beira da cama. De repente, minha esposa entra no quarto. Ela chora copiosamente. Quase 20 anos de casados. Pelo estado emocional já sei… alguém morreu … e é próximo. A esta altura meu corpo já está dominado pela adrenalina. Nem me lembro da preguiça que sentia.

Entre um soluço e outro ela diz: Marcelo… o Flávio!!! Numa fração de segundos meu cérebro varre a caixa de nomes… já estou de pé. Pelo menos 4 nomes aparecem.

– Qual Flávio? Pergunto.

Então vem a bomba…

– O Flávio Fiúza.

Meu mundo desaba. Minha mente desliga. Não consigo pensar em nada. Nem chorar consigo. Permaneço assim por eternos poucos minutos. Então minha consciência volta. Onde estão  Irene e Herculano (os pais), e Mônica e Nikolas ( esposa e filho). Onde estão Patrícia e Renato. (Irmãos). Precisam de ajuda? Como aconteceu? As perguntas são muitas.

Pego meu celular. Ainda sem acreditar, sou rebatido pela realidade. Mensagens de amigos comuns já estão a minha espera. Faço algumas ligações. Flávio era policial. Dos bons. Destemido. Até demais pro meu gosto. De certo levou um tiro. Ninguém morre assim com 47 anos. Mas não foi isso. Infarto foi a causa. Fulminante. Em casa. Inacreditável!

Como entender a lógica de Deus! Difícil! Como aceitar que o relógio pode rodar ao contrário. Os mais jovens enterram os mais velhos. É assim que deveria ser. Só a fé consola essa dor. Preciso melhorar a minha…

Fiúza, tal como o pai, atleticano roxo, é meu grande amigo de infância, adolescência e vida adulta. Andávamos meio sumidos. Culpa minha.

Meu companheiro de brincar na rua, bicicleta, papagaio e rolimã…  já tivemos banda, pegamos as meninas do bairro, e entramos em várias roubadas. Várias. Jogos do galo são incontáveis…

Teimoso como uma porta, amigo para além de onde a vista alcança. Um cara do bem. Intenso.

Amigo, estas boas lembranças são o que guardarei comigo. Por aqui vamos tentar fechar esta ferida. Não vai ser fácil! Eu e todos aqueles que te amam cuidaremos de tudo que é importante para você!

Obrigado pela sua amizade!

Marcelo Marques

Fiúza, ao centro com a camisa do galo, Mônica, Júnia e eu com Bia “cansada” no colo.

Flávio Fíúza

* 07/02/1973

+ 08/06/2020

12 Comments

    • Tarcísio PintoFerreira

      Conheço essa dor, de perto com toda intensidade, Marcelo. Amigo de fato é como irmão! Às vezes os temos como filhos e até os repreendemos.
      É uma dor que, decerta forma vc extravazou, colocando nas palavras sinceras o seu coração! Bonito, Marcelo!!

  • Bira Marinho

    Marcelo, seu texto retratou muito bem a sua amizade com o nosso queridissimo irmão, Flávio Fiuza, e retratou com perfeição a pessoa dele. São coisas assim que confortam nossos corações, que nos deixam mais tranquilos, sabemos que hoje ele está em um plano superior com as bênçãos de Deus. Parabéns pelo texto, irmão Flávio Fiuza, a quem eu sempre me referi carinhosamente por “Fiuza”, descanse em paz, fortaleça o espírito que a sua nova caminhada será de muito trabalho, consequentemente de muita evolução espiritual. Te Amo.

  • Alexandre Câmara

    Marcelo
    Triste, mas linda homenagem. Em contraste à estória triste e comovente, registro que o texto é de uma beleza ímpar. Fluído. Bem escrito, de fácil leitura. “Como aceitar que o relógio possa rodar ao contrário” é uma metáfora inteligente que enriquece o texto. Demonstra o inconformismo natural da partida precoce de um amigo querido; e ” Só a fé consola uma dor. Preciso melhorar a minha… ,”, poderia ter sido escrito por mim que sinto exatamente essa necessidade (saudade de Deus!).
    Por fim, amigo, me solidarizo com sua dor, cujo texto deixou evidente, ao mesmo tempo que peço licença, em te pedir para que continue a nos brindar com seus textos. Você tem veia literária.
    Abraço

  • Patrícia Fiuza

    Marcelo, muito linda sua homenagem ao meu amado irmão. A dor é tão grande que meu corpo todo dói. Dói minha alma. Ele vai fazer falta demais!!! Também preciso melhorar minha fé porque está difícil aceitar sua partida tão precoce mas tenho certeza que um dia vou encontrá-lo novamente. Obrigada! Um abraço!

    • Tarcísio PintoFerreira ok

      Conheço essa dor, de perto com toda intensidade, Marcelo. Amigo de fato é como irmão! Às vezes os temos como filhos e até os repreendemos.
      É uma dor que, decerta forma vc extravazou, colocando nas palavras sinceras o seu coração! Bonito, Marcelo!!

  • Tarcísio PintoFerreira ok

    Gente, quanta surpresa agradável!
    De repente e não mais do que de repente, nos deparamos, neste blog, com escritos admiráveis. Já conhecíamos o gabarito do Chimicatti, o Fernando, desde jovem, como ledor àvido, sempre escreveu muito bem. Agora, estamos descobrindo novos e formidáveis talentos. Quem diria que oMarcelo Marques teria tanta sensibilidade e até propriedade para descrever a dor pela perda de um amigo/ irmão? O Câmara já se revelou uma “ máquina” na produção de excelentes peças. E o humor bem carioca do Vinícius, cuja inteligência há muito conhecíamos? Esperamos novas surpresas.

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