Garrucha – o matreiro curioso.
Garrucha: assim era chamado um senhor matuto de inteligência ímpar e muita perspicácia. Curioso que só, queria porque queria descobrir o preço de venda de um sítio vizinho ao seu.
Antes do raiar do dia e o sol mandar a noite dormir, Garrucha já pitava seu cigarrinho de palha na soleira de seu casebre. Pensativo testemunhou o dia chegando de mansinho e a coruja se recolher conformada.
Após alimentar suas crias e de café tomado arquitetou um plano para, então, ir ter com o dono da propriedade colocada à venda. Deu em sua telha de convidar o Zeca, dono de uma pequena, mas próspera loja de materiais de construção de uma cidade vizinha, seu conhecido, para um plano que, entendia, seria infalível. A coisa se daria da seguinte maneira: Garrucha apresentaria o Zeca para o dono do sítio como interessado na compra do mesmo. Por óbvio que era preciso saber-se o preço para que Zeca pudesse avaliar e confirmar seu interesse na aquisição da propriedade. Assim, o curioso, alcançaria seu intento.
Trama combinada, Zeca chega em hora marcada e, ambos, partem para a casa do vendedor, dono dos alqueires. Apresentações feitas, Garrucha, com a maior cara de pau do mundo, informa a intenção do Zeca àquela visita. Seu Altino, caboclo dono do sítio, desconfiado, coça a ponta da barba, olha para a janela e mira o horizonte. Pede licença, levanta-se, apanha a palha e o fumo de corda. Macerando o fumo com as pontas dos dedos por sobre a palha seca, pergunta o porquê do tal homem se interessar pela compra.
Matreiro e já percebendo para onde a conversa ia dar, Garrucha desvia a prosa e pergunta pelo desaparecimento de um garrote do vizinho. Seu Altino não se dá por rogado, oferece um café aos visitantes e se levanta novamente alcançando três canequinhas de ferro, sem nada responder. Serve o café e repete a pergunta. Sem alternativa e meio desajeitado, Zeca, responde, gaguejando: seria o sítio um regalo de casamento à sua filha.
Os olhos de Garrucha chegam a brilhar acreditando que, naquele momento, saberia o valor daquele bem, matando sua curiosidade. Mas como o diabo é diabo porque velho, Seu Altino ainda quer saber mais: sem corar a face pergunta a Zeca quanto valia seu comércio. O homem olha para o arquiteto daquela operação como a pedir que o livre da enrascada.
Entendendo a situação, Garrucha responde, antes mesmo de Zeca poder raciocinar: Seu Altino, a loja do Zeca não está à venda, mas se o senhor quiser comparar com sua propriedade, coloque umas três vezes mais no valor da loja. Levanta, chama o amigo, agradece e dá no pé.
Montado numa égua prenha, Zeca arranca um galho de árvore e dá-lhe no lombo do Infeliz animal, fazendo-o galopar depressa. Ao chegar de volta casebre do Garrucha pergunta a ele se gostou do galope que a égua deu. O matreiro curioso, ainda puto com a esperteza do vizinho, que astuto percebeu toda a trama, e sem ter sabido o preço da propriedade vizinha responde irritado: olha só, pra mim, pra fazer uma maldade dessa com a bichinha prenha só posso achar que o senhor é mais animal que a égua…
Alexandre
10/06/2020
2 Comments
Tarcísio PintoFerreira
Câmara, vc trabalha muito bem com o vernáculo e com as idéias . Cada trabalho melhor do que o outro!
Alexandre Câmara
Obrigado, Dr. Tarcísio. Tenho me esforçado, pois tenho muito apreço pela língua. Mas há muito a melhorar.