Causo,  Literatura

O pato morreu!

Hoje vou contar mais um “causo”.

Esse, acontecido em família.

Minha mãe, já septuagenária, estava deliberadamente quase surda.

Para que ela  entendesse, a gente tinha de falar bem alto e ela tinha de ver o movimento labial.

Escutar no telefone, então, para ela era um suplício.

Pois bem, na véspera daquele dia ela tinha ido visitar  a Ica, sua vizinha de fundos.

A Ica, contristada, falou para minha mãe que tinha um pato de estimação e que ele estava muito doente.

Até a levou para ver o dito pato.

No dia seguinte, bem cedo, toca o telefone lá em casa.

Minha mãe atendeu. Era a Ica no outro lado da linha.

Pesarosa, certamente, a Ica falou para a minha mãe que o pato havia morrido.

-O quê? Respondeu minha mãe.

-Você tem certeza de que morreu?

Provavelmente sem entender o que estava ocorrendo, Ica falou:

-Morreu mesmo,Mariquita! Infelizmente, agorinha mesmo.

Esbaforida, minha mãe desligou e imediatamente ligou para a irmã dela, minha Tia Lucília, para dar a notícia que entendera.

Um parêntesis: Tia Lucília era o que costumavam dizer, uma “barata de Igreja”.

Chegou a passar muitos anos em Convento, mas não sei porque, não fez os votos para se tornar freira.

Lá, na Igreja onde se aboletou, a Tia Lucília era uma “faz tudo”: limpava a Igreja, lavava roupas e vasilhas, cuidava da marcação de casamentos e batizados, trocava as flores do altar, etc, etc.

O Vigário não gostava muito dela, mas a suportava, porque era  útil.

-Lucília, imagine o que aconteceu; o Papa morreu!

-Quem lhe disse isso, Mariquita?

Uma amiga muito bem informada!

Pressurosa, Tia Lucília ligou para o Vigário, para lhe dar a infausta notícia.

O Vigário, desconfiado, perguntou como ela obtivera a notícia?

Sem hesitar,Tia Lucília declarou que foi de uma pessoa muito bem informada, que tinha contatos no Vaticano.

Diante dessa informação, o Vigário começou a acreditar na estória, mas, na dúvida, ligou para a Cúria Metropolitana.

Lá, houve um corre-corre, até que o Bispo Auxiliar colocou fim na arruaça, afirmando que o Papa estava vivo e mais do que saudável!

Entre os mortos e feridos só não se salvou  incólume a Tia Lucília: O Vigário da Paróquia além da esculhambação que lhe deu, aplicou-lhe 30 dias de suspensão dos serviços na Igreja.

E essa era uma pena dolorosa para a pobre Tía Lucília!

Tarcísio P. Ferreira

Belorizontino (nóis daqui junta as palavra mesmo), atleticano, advogado, cozinheiro e viajante! Conhecendo o mundo pela sua culinária, seus vinhos e butecos... nesta ordem!

2 Comments

  • Chimicatti

    Caríssmo Doctor…
    pensando bem, dependendo da época que a D. Mariquita recebeu o telefonema, bem que ela poderia ter razão… já que tanto o Papa quanto o Pato, certamente, ja morreram!
    Por outro lado, a pergunta que os aglomerados de verde a amarelo da Avenida Paulista fazem e não quer calar é: “quem vai pagar o Pato?”
    Já sabemos quem são o Pato da história, só não encontramos, ainda, quem vai pagá-lo…
    Mais uma bela pérola de suas memórias deslubrantes! Parabéns!
    Um amplexo!

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