Malandro Cocô
Minha turma de juventude no bairro era o que o Seu Afonso um dia chamou de “do cú riscado”!
De fato, a gente aprontava.
No nosso manual só não existia desrespeito aos idosos e discriminação.
Fora encontros casuais, a gente se reunia, invariavelmente à noite, no Bar do Bodão, personagem folclórico, que um dia lançamos como candidato à Presidência da República e cujos “comícios” atraíam multidões e se tornaram notícias de jornais.
Dia desses, vou contar alguns “causos” relacionados, mas hoje vou falar sobre o Luiz Otávio.
Ele era uns 5 ou 6 anos mais novo do que a média de idade da Turma do Bodão, como éramos conhecidos, mas insistia em estar em nosso meio.
Trouxe consigo o apelido que lhe puseram em família: Lotávio!
Estranho, era de família de classe média alta, mas gostava de dizer que era malandro.
Sim, malandro, tipo carioca do morro, cheio de gírias e trejeitos. Andava com a calça atada abaixo da linha da cintura e um certo gingado.
- Ô meu! Era como nos chamava.
E quando a gente perguntava se ele ia fazer isso ou aquilo respondia apenas:
- Soooooó, longo assim.
Pois bem, a gente até que incentivava as esquisitices dele, porque chegavam a ser divertidas.
Vivíamos pensando até a que ponto ia a tal malandragem dele.
Um dos nossos amigos, o Alceu, era proprietário de um posto de gasolina.
Certo dia, combinou com a gente de experimentar a pretensa valentia do Lotávio.
Em tom de absoluto sigilo, Alceu chamou o Lotávio e lhe propôs, juntos, assaltarem o posto de gasolina.
Convenceu o Lotávio de que o assalto seria a afirmação da coragem dele no meio da turma.
Um tanto desconfiado e temeroso, Lotávio questionou sobre os riscos.
Alceu redarguiu que apenas um velho ficava no posto após 10:00 hs da noite e que a coisa seria mole.
Não podendo fraquejar, ele perguntou como seria o assalto, ao que Alceu respondeu que iria com ele e lhe forneceria um revólver, para intimidar o velho e tomar a féria do dia.
Tudo preparado, chegou o grande dia.
Às 23:00 hs, mascarados, Alceu e Lotávio se dirigiram ao posto.
Logicamente, que o vigia sabia de tudo e também que o revólver emprestado ao Lotávio não atirava nem a poder de reza, porque era defeituoso.
Escondida, nas proximidades, a turma já antegozava.
Um detalhe, tínhamos, como amigo, um policial que trabalhava na ronda. Combinamos com ele atuar na farsa, chegando na hora do assalto.
Tudo acertado, lá foram Alceu e Lotávio para o posto e em lá chegando, Lotávio anunciou para o velho vigia que era um assalto, apontando-lhe o revólver.
O vigia, pediu clemência e falou que entregaria o dinheiro.
De repente, com a sirene ligada, chega o carro da polícia, que estava estacionado na esquina próxima.
Lotávio, apavorado diante da voz de prisão, borrou nas calças!!
Foi aí que a turma apareceu, como surgindo do nada, para uma baita gozeira.
Foi quando alguém gritou:
- Ei Lotávio, agora sabemos que vc é o famoso malandro cocô!!
O apelido pegou e não tardou para que o pobre coitado sumisse da turma e até do bairro.
Dizem que ele foi tentar a vida nos Estados Unidos.
E que lá se deu bem!
2 Comments
Alexandre Câmara
Muito legal…. kkk Causo gostoso de ler!
Tarcísio PintoFerreira ok
Sempre cavalheiro, né Câmara?
Obrigado!