A verdade e o espelho
A crônica fala sobre uma citação de Dostoievski a respeito da verdade.
Preconceito
Quando tocamos em algum assunto meio espinhoso, em qualquer área humana, podemos observar velado desconforto a respeito. Muitas pessoas tendem a negar a realidade utilizando subterfúgios – num contorcionismo de ações, palavras ou até de silêncio – na ânsia de livrá-las da saia justa. Incluo-me nessas tentativas; por vezes fundadas na hipocrisia, outras na ignorância ou ainda na falta de capacidade, em muitos casos, de lidar com o que chamo de verdades duras! A pergunta é: por que não as encaramos? Seres racionais que somos, nos camuflamos e nos escondemos atrás de escudos imaginários (desrazão?). Abraçamos a sublimação como nossa tábua de salvação e seguimos firmes em nossa capacidade de…
Régua imprecisa!
A felicidade não está, necessariamente, na razão. Está ela para a empatia, tolerância e uma visão mais humanizada.
Eu, dentro de mim…
O grande Mário Quintana, quando perguntado se temia a morte, disse ter muita vida dentro de si. Isso me tocou fundo e achei lindo O eterno, por certo, aquele escritor carregava com clareza. Refleti sobre esse sentimento de amor à vida e sobre a incerteza da não existência e o que tenho dentro de mim para poder amar tanto a vida, a exemplo de Quintana. A resposta não é simples. Invejei o escriba, confesso. Dentro de mim há a imensidão escura do universo inexplorado… o agudo da dúvida a ecoar a sua nota mais alta do por quê. Não percebo a eternidade em meu ser. Sei porém, meus ouvidos e…
A felicidade e esses meus ouvidos moucos…
O dia amanhece chuvoso, Ana acorda e se sente feliz. Levanta-se e decide permanecer vestida com seu pijama de flanela de calças e mangas compridas. Prepara seu café e o toma lentamente com um pão com manteiga quentinho. O sabor e a simplicidade do momento aumentam sua felicidade. Era dia nenhum para ela, ainda que havia afazeres. Não era quinta, nem domingo; era apenas um dia chuvoso e prazeroso para Ana. No mesmo dia, pálido, Roseli acorda e numa espiadela, com apenas um olho aberto, percebe o molhado de chuva que lhe deixa infeliz. O olho desperto mira a janela sem nada ver; Roseli escuta o barulho da aguaceira caindo…
Dia dos pais
A vida é de amargar mesmo. Ela tira e põe a todo o momento. Meu querido pai não está mais entre nós para que eu possa abraçá-lo. Mas… sempre tem um “mas”… tenho meus filhos a me abraçar. Por consequência e honra abraço meu querido pai. Excepcionalmente, nesse maldito ano de pandemia, o abraço, no dia dos pais, toma uma dimensão diferente, cujo esforço resulta na demonstração do que é amor. Em suas idiossincrasias meus filhos enfrentaram seus receios, tratos com seus pares e consigo mesmos e vieram me abraçar tocando os pés, cotovelos e punhos cerrados. Um abraço diferente e inventado, certamente, por nós, brasileiros, que não vivemos sem…
Quando meu futuro me chega…
A ideia central é entender o quanto somos ignorantes no tanto de saber que a vida nos proporciona e nos desafia. A consciência da ignorância nos torna menos ignorante e nos estimula ao apredizado.
Que se danem nossos pais!
(“Quero ser feliz. Mas não ter esse trabalho horrível de me fazer feliz.” Clarice Linspector). Para vocês que ainda colocam nas costas dos pais seus problemas e frustrações, chega: danem-se nossos pais. Cresçam!!! Se a unanimidade é burra, a generalização é uma mula. Portanto, minha conversa é para aqueles cujos pais se enquadram dentro do limite razoável do que é ser humano. Para aqueles que sofreram com pais crápulas e psicopatas também vale; com ressalvas. Pois bem, danem-se nossos pais. Pelo amor de Deus, parem de imputar culpa aos pais. Está na hora de olhar as circunstâncias históricas e “perdoá-los”. Pais são como entidades. Acreditamos em suas santidades quando na…
Quem você poderia ter sido? (Torna-te quem tu és!” – Nietzsche).
Não! Não estou falando o quê, mas quem você poderia ter sido. Isso mesmo: essa é a pergunta-chave que não soubemos nos fazer quando jovens. Nem poderíamos. Há que se caminhar sobre cascalhos para se achar ouro. Não fui eu que escrevi essa frase que trás um lindo ensinamento; apenas a modifiquei um pouco. Helena Kolody – poeta – apresentada a mim por Rubem Alves em sua linda crônica “Ensinando a tristeza” – quem a escreveu (“Busca ouro na ganga da vida. Que esperança infinita no ilusório trabalho… Para cada pepita, quanto cascalho”.). Sim! Estou tentando falar de felicidade. Assim como ouro, é preciso aprender a procurá-la e isso só…
Carta a um amigo em tempos outrora…
Caro amigo Há tempos não nos vemos, como bem sabes. Nossas alternativas de transporte nos revelam pobres na engenharia. Desconfio que só ensinamos medicina e direito, e essas coisas, embora importantes, não constróem engenhocas. Nosso futuro parece sentenciado apenas a amenizar o sofrimento dos moribundos e à defesa dos poderosos que se esbaldam feitos parasitas da corte e aos borra-botas do governo. Seria possível, um dia, haver um meio de locomoção rápido a nos proporcionar encontros mais frequentes? Contentaria-me viajar para encontrá-lo ao menos uma vez a cada dois anos… Aqui estava indo tudo bem, naquela pacata vivência: trabalho de dia e de alguns goles na taverna à noite. Ultimamente,…