Um humanista um pouco bravo.

  • Crônica

    Anastássios Hristos Kambourakis

    “Lelê: você está vendo tudo isso? Olhe até onde sua visão não puder mais enxergar: tá  vendo aquela montanha? aquela cerca lá no final, perto da linha do horizonte? Tudo isso pertence aos meus filhos. Portanto, pertence a você também!” Essas palavras foram, para mim, a mais perfeita maneira de dizer “eu te amo” que já ouvi em minha vida e dirigidas a mim. Manhã linda de sol, num sábado de verão, estávamos em Amparo. Com frequência, aos sábados, eu e Anastássios, partíamos em direção ao sítio de sua família. Éramos eu e ele apenas e, sinceramente, não precisava de mais nada nem ninguém. Íamos contando causos como dois velhos…

  • Crônica

    A Palavra…

    Como definir a palavra? Fascinante e enigmática é o que vem de bate-pronto.  A voo de pássaro, como diria Ayres Brito quando disfarçado de poeta, responda: qual o significado da palavra epiceno? Não vale dar uma espiadela no Google. Seja honesto!   Pronuncie o exemplo que dei há pouco: espiadela. Soletre: es-pi-a-de-la. Não é belamente sonora? Sensual, até? Parece traduzir uma certa proibição; um algo inofensivamente errado… chega mesmo a nos dar a impressão de ser um ente vivo. E, a rigor, é, pois que o vocábulo tem vida própria. A palavra é algo incrivelmente encantadora. Não importa se bonita, feia, sonora, fácil, difícil, incomum ou não. A palavra é como…

  • Crônica

    A máquina de escrever

    Inauguro minha máquina de escrever. Para um romântico, como eu, começo mal. Meio sem graça e pouco criativo, começo. Há de se aquecer o cérebro. Fico um pouco decepcionado: apesar dos recursos que a máquina possui é um tanto barulhenta – elétrica. Escrevo acariciado pelo som de Neil Diamond – Live in America. Indescritível: como o encontro das águas. Deve-se ver; no caso de Diamond: deve-se ouvir. Ouço, agora, Play me. Divirto-me sozinho… Eu e minha metralhadora, sofisticada, continuamos. Ela às minhas ordens. Mas… nada escrevo que se aproveite: apenas registro minha inauguração e penso na vida. Lembro das Marias e das Marias que não as conheci. Lapso de romântico?…

  • Crônica

    A caneta

    Interessante! Talvez curioso. Meu destino é São Luiz do Maranhão. Estou na primeira escala do vôo: Brasília. O comissário anuncia uma hora de espera. Minha ansiedade responde com uma escapada para fora da aeronave; são 21h30m. Passeio pelo saguão do aeroporto e não vejo, senão, o de sempre: pessoas, lojas, vitrines e preços. Livraria minha predileta. Uma carinhosa lembrança convida-me a uma lembrança da cidade como presente. Nada me comove e, então, nada compro. São Luiz deverá ser mais entusiástica. Pares de óculos trocam-me olhares… mas já os tive aos montes e hoje os tenho, dois. No bolso, a Bic sem tampa insiste em riscar minha camisa. Hum… Sinto uma…

  • Poesia

    Livro – Quase Poesias

    Quase Poesias… são rimas breves, adolescentes, recheadas de inocentes libidos e inofensivas paixões. Em sua maioria são versos criados entre os doze e vinte anos e, alguns outros, poucos, de lá para cá.  Já se vão mais de trinta anos… Resolvi transformá-los em um singelo livro de quase poesias por capricho e gosto, quem sabe ainda de imaturo vigor. É, pois, uma maneira de brincar um pouco com minhas lembranças da tenra idade. Livro despretensioso. Para amigos que, certamente, saberão guardar a lupa da razão e, no máximo, rir, afinal não são mais que Quase Poesias… Portanto, lúdico, na medida em que nada se pretende a não ser recordar memórias…

  • Poesia

    Filho meu!

    Filho meu Como eu … Alma minha, Alma boa. Algo incrível! Razão voa… Tanto faz: De trás pra frente, De frente pra trás. Tanto faz: Razão voa… Algo incrível ! Alma boa, Alma minha. Como eu, Filho meu! (ler, agora, de baixo pra cima) Post Views: 143

  • Poesia

    Filha danada! Filha amada!

    Nesse mundão de meu Deus Onde tudo está do avesso Onde o mato come a vaca  E a vaca armenta o preço  É bão de ter uma filha danada Sorteira ou casada.  Contrário de tempos outrora Rompendo tradição passada Filha bonita e educada Vai pro mundo preparada.  Pois o que é bão mesmo, É filha valente, Daquelas que enfrenta a vida no dente, De forma delicada. Filha assim que quero. Não filha mimada. Filha com fibra. Filha de purso firme, E muito endinheirada. Feliz da vida e azeitada. De vida honesta e de valores arraigada. Preocupação de pai aposentada. Orgulho de filha Filha danada! Filha amada!  Alexandre Post Views: 146

  • Aplausos

    Carta a Lya Luft

    Cara Lya Luft Descubro-te e me encanto. Como um potro corro em sua direção e bem longe avisto um puro-sangue amestrado pela sua dona Vida. Lindo, impávido, altivo, soberano e nada soberbo. Ouso-me pensar que poderia alcançá-lo e, quem sabe, ser altivo também.  Arrisco, vez ou outra, a traçar linhas que me traduzem, cujas palavras são as lentes que, presunçosamente, quero emprestar aos meus imaginários leitores. Mas lentes que ainda não corrigiram minha miopia da vida. É possível que para alguns poucos de minha família, família de poucas letras, conquisto certo espaço e por vezes sonho que posso avançar. Mas aí te encontro em “Perdas & Ganhos” e “Pensar é…

  • Crônica

    A arte e o prazer de escrever

    Tiro cor da palavra velho, que carrega certa pecha por indicar a ideia de decadência e vulnerabilidade, dizendo que estou distante da minha tenra idade… Um disfarce poético de um apaixonado pela boa escrita que empresta de Pedro Nava – contemporâneo do nosso maior poeta, Drumond – a sentença que dizia:  “acaricie uma frase e ela sorrirá  pra você”. Truques de quem aprecia um texto, mais do que correto, harmonioso, criativo, que faz da alma a folha de papel que acomoda as palavras como uma barriga de aluguel que gesta um texto sedutor. Embora creio, Nava, talvez, nunca usasse o termo “pra” e sim “para” (acredito que o lapso é…

  • Crônica

    A Amizade , a péia e a tradição…

    Oitocentos capeletti. Oitocentos? Sim! Fatto a mano.  Aos sábados nossos amigos de BH, resolveram almoçar, digamos…  virtualmente juntos; dado o novo normal pandêmico. Cada sábado, um amigo elabora um prato e o envia para os demais amigos – para a família toda. Hora marcada, ligam seus respectivos computadores e, como mágica, almoçam juntos se deliciando com o prato recebido. É o que chamo de sofisticadamente simples; extraordinário, fraterno e delicioso. Sexta-feira, à tarde, recebo uma encomenda: um isopor lacrado, com meu nome e endereço, vindo de Belo Horizonte – MG. Dentro, três vasilhas descartáveis com capeletti e molho de tomate. Tudo no gelo seco a menos oitenta graus para aguentar…