Apenas um sonho…
A campainha acusava o telefone. Solitariamente, em meio ao quarto, acabrunhado encontrava-me. Relutei em atender ao chamado. Cinco e quinze da manhã; o cansaço perdera para a insônia. Outro toque: corri. Uma voz distante sussurra um endereço. Um frio superficial toma conta do meu corpo. Indaguei aquela voz estranha. O silêncio no aparelho espargiu no ar.
Imediatamente armei-me com um calibre trinta e oito. Um conhaque coloquei goela abaixo. Já no portão olhei para todos os lados: o alvorecer, outra coisa não vi.
Na praça mencionada um busto eminente acusava o lugar marcado. Aproximei-me e percebi um manuscrito. Abri: a caligrafia não combinava com a situação enigmática e de pavor que eu me encontrava; era uma pista falsa; talvez uma brincadeira de mal gosto, pensei.
Com a mão no bolso do casaco, sobre a arma, atento permaneci. Um assobio agudo marcava a presença de um vento contínuo, irritado…
A mesma voz, como num eco, novamente se fez ouvir. Não fosse o inusitado a provocar-me e a vencer o medo, correndo me afastaria. O frio, não sei dizê-lo; a ansiedade e o receio discutiam qual poderia ser mais cruel.
Passos ouvi aproximarem-se. Como uma miragem um vulto cristalizou-se em minha frente. A silhueta confundiu-me com seu contorno disfarçado pelo vento, agora mudo. A linda senhora para mim sorriu. Da arma levei a mão ao rosto e num gesto constrangido limpei uma lágrima.
Esfreguei os olhos. Tudo começou a ficar mais claro, nítido. São sete horas da manhã de um dia frio e úmido. Observo ao meu redor e me dou conta: foi apenas um sonho!
Alexandre
06/09/1984