No Show
Perdi o vôo. Cheguei até bem cedo no aeroporto, mas me distraí com um bendito telefonema que resolvi dar para a VASP, a fim de reclamar uma passagem- bônus a que tinha direito e que tardava a me chegar às mãos. Engraçado é que nem precisava dela! Não tinha planos, a curto prazo, de uma viagem de lazer para aproveitá- la. Já passei muitas horas em aeroportos aguardando as famigeradas conexões, mas nunca me senti tão desenxabido, tão desconfortável. Afinal, mineiro não perde o trem. Nem bonde. Quanto mais avião! Em certo momento,tive a sensação de que todos me olhavam contristados, porque se apercebiam da minha frustração. O quê fazer? Putz,…
Mentira tem pernas curtas e, às vezes, peluda…
A estória nunca pôde se comprovar. Ano vem, ano vai, não sai, ela de boca alheia, porém. Lá pelos idos de mil novecentos e guaraná com rolha, há muito tempo atrás, Dr. Adamastor Rodrigues resolveu comprar um presente para sua esposa. Cidade pequena, poucas lojas e povo todo conhecido uns dos outros. Ao entrar na loja, Dr. Adamastor, então renomado dentista na cidade, foi recepcionado, efusivamente, pela simpática vendedora, Ana, que lhe perguntou em que poderia ajudá-lo. O famoso tira-dentes apontou para uma bonita lingerie. Era surpresa para comemorar seu aniversário de casamento e queria que aquela noite fosse inesquecível. Imediatamente, Ana, mostrou-lhe várias peças de lingerie sensualíssimas, além da…
Não Há (o) Tempo.
O que seria do tempo não fossem o Sapiens Sapiens? Nada, absolutamente, nada, como de fato o é! Espasmo cerebral versado em organizar a vida humana que, por não ser suscetível de qualquer dominação, a tentamos pela via da certificação cartorária: demos-lhe nome e empregamos-lhe tamanho. Fatiamos-lhe em passado, presente e futuro. Só não conseguimos desafiar o dilema da inexistência lógica entre tais fatias temporais! O que é o passado senão uma sensação construída a partir dos sentidos humanos (visão, tato, olfato, paladar e audição) sobre atos e fatos da vida que ocorreram no mesmo exato instante do que convencionamos chamar de presente? Não nos descuremos que o tal futuro…
Persona Non Grata
Eis que a persona que há muito não se via amiúde, desfila pelos logradouros, imune a qualquer infectação de sobriedade mundana!Enquanto há máscaras caindo pelo mau uso dos seus incautos possuidores (ou possuídos), há personas sendo forjadas em tempos de aflição global, não para uma representação dramática de uma tragédia, mas pela impulsão pragmática de uma novela cujo final, não se sabe, será feliz!A variante propiciada pela máscara transeunte, há de reverberar sempre, por quem esteja por detrás da persona, enquanto aos costumes não forem, os legítimos personas non gratas, chamados!Em magistral contribuição para o diálogo, assim disse-me Marly Libreon:“Tenho certeza que, se Picasso estivesse entre nós, retrataria com arte…
Bêra
Veio do interior de Pernambuco. Pelo que se sabe, de um lugarejo qualquer, perdido no mapa, onde todos viviam da cana. Ou melhor, do plantio e da colheita dela, logicamente a serviço dos “ senhores” dos engenhos. Seu nome: Beraldo Cândido da Silva. Com muito esforço, concluiu o curso primário numa escola rural, o que lhe dava muito destaque naquela comunidade pobre e simples. Um belo dia, cansado do trabalho duro, da quase miséria, juntou alguns trocados e resolveu tentar a vida em São Paulo. Desde a partida, acompanhou-o uma tal de hérnia do disco (como diagnosticou um médico em Recife, onde chegou morrendo de dor) e que já lhe…
Inferno
Contou-me, meu velho pai, Luiz Chimicatti Netto que, certa feita, um de seus convivas do interior de Minas Gerais, Ezequiel, degustando uma boa cachaça no balcao do bar do Zé de Alaíde, em Monte Azul, cidade do norte de Minas e “ponta de linha” da RFFSA por aquelas bandas, por ocasião de uma de suas milhares viagens como “chefe de tren” lhe confidenciou que estaria sendo assediado pelo “capeta”. Indignado, o velho indagou ao seu amigo sobre os porquês do assédio e o porquê já não havia denunciado à Deus tamanho abuso do “coisa ruim”. Tratando logo de responder à forte indagação, revelou, o assediado Ezequiel, que o “cramulhão” estaria…
Eu?
E eu? Ora… “direis” sendo o que sou, alvo de quem mais precisa de uma bela e rápida resposta, cuja indagação há 49 anos tem-se feita, durmo e acordo com a certeza de que “hoje vai… se foi, ainda não percebi, mas irei! Sei que irei e clamo ao tempo que não me traia. Aliás, o fruto dessa incógnita nada será que mais do que sou eu! Quem diria… sempre eu! Assim que menos de mim valer, mais meu eu serei! Post Views: 276
A Frase Fatídica
Estou chegando para contar um “causo” real e bem pitoresco: Em fins da década de 60, eu trabalhava na Secretaria das Finanças, hoje Secretaria de Estado da Fazenda, quando foi nomeado um novo Secretário. Assumiu, com pompas e circunstâncias e logo mandou que se colocassem em todos departamentos quadros com uma frase de sua criação, a saber: “Não basta despachar o papel, é preciso resolver o negócio”, seguindo rebuscada assinatura dele. Pois bem, não demorou para que um gaiato pichasse, em letras garrafais, na parede da privada: “Não basta resolver o negócio. É preciso passar o papel” !!! Sem demora, foram retiradas e sumiram os quadros afixados nos departamentos. No…
Essencial!
Amigo é essencial pra vida, pra juntos aprender a se alegrar à vista do belo, do bom, da arte e do divino, pra sorrir, pra rir, gargalhar de correr lágrimas e dar dor na barriga, mas, também, pra lado a lado, reconhecer e se indignar em face do imoral, do injusto e do maligno, pra ficar triste, suspirar, chorar de dar soluço, quando dá vontade de afastar a dor da alma. Amigo é essencial pra viajar, pra conhecer o mundo, experimentar suas comidas, seus sabores e cheiros, descobrir suas culturas, suas paisagens e suas gentes… e também pra sair das roubadas, que, inevitáveis, encontram um jeito de acontecer nessas jornadas.…
Saudade de Deus…
Anos atrás percebia que algumas pessoas, de repente, começavam a temer a Deus quando começavam a envelhecer. Sempre achei isso meio covarde, hipócrita e, de certa forma, engraçado. Pois, quando jovens debochamos de quase tudo e tudo nos parece cômico. Pois bem, distante de minha tenra idade começo a ter um sentimento contrário. Flerto com o agnosticismo descrente que estou do mundo terreno e metafísico. Confesso, porém, que há tantos anos comunicando-me com o Supremo percebo que interromper o processo é uma ação hercúlea. É como o fumante que quer estancar seu vício repentinamente. Descubro, então, que me tornar agnóstico não é fácil. Vez e sempre, ainda, creio que incorro…