O Dourado e o Pescador.
O Dourada, fisgado, salta metro e meio fora d’água. Seu brilho refletido por um sol intenso, nos prestigia e exibe um balé sobre as águas do rio Aquidauana – no Pantanal mato-grossense. Estava-se diante de um bravo. Seu esperneio e força excitam e comovem, dando a exata dimensão do que significa coragem e força. Sua silhueta brilhante, voando alto, tenta cuspir, chacoalhando sua cabeça de lado a outro, o anzol assassino entranhado em seu beiço duro. O bicho luta feito um samurai flutuando acima d’água. Do ar mergulha sob um rio caudaloso e escuro; imerge e feito um torpedo certeiro, à flor da água, segue em direção ao barco numa…
Mentira tem pernas curtas e, às vezes, peluda…
A estória nunca pôde se comprovar. Ano vem, ano vai, não sai, ela de boca alheia, porém. Lá pelos idos de mil novecentos e guaraná com rolha, há muito tempo atrás, Dr. Adamastor Rodrigues resolveu comprar um presente para sua esposa. Cidade pequena, poucas lojas e povo todo conhecido uns dos outros. Ao entrar na loja, Dr. Adamastor, então renomado dentista na cidade, foi recepcionado, efusivamente, pela simpática vendedora, Ana, que lhe perguntou em que poderia ajudá-lo. O famoso tira-dentes apontou para uma bonita lingerie. Era surpresa para comemorar seu aniversário de casamento e queria que aquela noite fosse inesquecível. Imediatamente, Ana, mostrou-lhe várias peças de lingerie sensualíssimas, além da…
Sem eira, nem beira… tribeira; bruma e patê…
Diferente coisa não se podia esperar de um final de semana com Chimicatti, Fernando e eu… Meio da tarde eu e Chimi sentamo-nos no bar do hotel a espera do Fernando que se atrasaria. Desconfiamos o motivo, mas… enfim, demos a largada. Angélica Zapata foi a melhor escolha. Cabernet Sauvignon era o melhor custo benefício. Poderia ser Malbec, preferência da maioria. Cinquenta reais a mais por garrafa, razoáveis seriam não fosse nossa média de consumo nessas ocasiões. Dia lindo. Paisagem ainda mais… era o que podíamos observar da mesa que estávamos a saborear a bebida dos deuses. Terceira garrafa depois se ouve a voz rasgando a recepção do hotel com…
Saudade de Deus…
Anos atrás percebia que algumas pessoas, de repente, começavam a temer a Deus quando começavam a envelhecer. Sempre achei isso meio covarde, hipócrita e, de certa forma, engraçado. Pois, quando jovens debochamos de quase tudo e tudo nos parece cômico. Pois bem, distante de minha tenra idade começo a ter um sentimento contrário. Flerto com o agnosticismo descrente que estou do mundo terreno e metafísico. Confesso, porém, que há tantos anos comunicando-me com o Supremo percebo que interromper o processo é uma ação hercúlea. É como o fumante que quer estancar seu vício repentinamente. Descubro, então, que me tornar agnóstico não é fácil. Vez e sempre, ainda, creio que incorro…
Porque a esquerda ressuscitou os Bolsonaros!
Lembro-me quando depositei toda minha esperança em um país com justiça social, sem roubalheira e votei no Lula contra o Collor. Ouvi Collor usar de todas as artimanhas para satanizar Lula e a esquerda. Repetia, Collor, que seria o caçador de marajás. Dentre tantas outras mentiras. Sem hesitar votei no PT. À época, há quase trinta anos atrás, contava com 26 anos. Já tinha dois filhos e cria que trocar o poder de mão traria futuro aos meus rebentos. Votei várias vezes em Suplicy, Lula, Genoíno, Mercadante. Votei em FHC, Covas, Montoro. Cri serem os melhores. Sempre achei que o PT fez um bem enorme ao Brasil. Pois fez, sempre,…
Os melhores vencerão!
Quem me conhece sabe que sou realista e, por vezes, cético. Nesse momento de reclusão, tento olhar pela Janela da razão e achar a razoabilidade em meio a esse caos que nos envolve a todos. São tantas as incongruências, as contradições, as desinformações e – a moda dos nossos tempos – as fake news – que insistem em ser utilizadas como armas para defender interesses próprios e de poder – que nos atordoam e nos desesperam. Temos visto a irresponsabilidade e inépcia de um governo caótico que se alimenta de teorias conspiratórias; observamos atônitos grupos radicais incentivados e ludibriados por essas teorias; estratégias maniqueístas são usadas para dividir, causando uma…
O taco solto …
Virou a última página do livro. Havia sido uma história interessante. Lia e comparava sua vida com as nuances de um vai e vem de felicidades e angústias. Terminou: reflexões… Quis relaxar-se; um cigarro acendeu tragando-o profunda e lentamente. As lembranças chegavam rápida e compassadamente com as batidas eloquentes de um coração aflito. Na cabeça, uma mulher: linda mulher; pele morena, macia e vistosa, mostrava o prazer tatuado num corpo que falava exalando sensualidade pelos poros… O decote lhe caia bem; sensualmente tornava-a ainda mais presente em sua memória. Quanto desejo. Como se não bastasse , sua alegria e charme eram encantadores. Gestos radiantes formavam uma coreografia singular. Sem a…
O pipoqueiro da pracinha.
A música espargia no ar. Em meio ao verde exuberante a mostrar uma beleza virgem, o som da vitrola acompanhava a sinfonia dos pássaros que tinha como maestro a mãe natureza… O coreto no centro da praça mostrava a paz cercada de harmonia e pessoas enamoradas. Na algazarra das crianças, nos rostos apaixonados dos adolescentes e na saúde dos velhos estampavam-se a caricatura do costume tranquilo e fraterno de viver em paz. O Sr. Juvenal, ainda me lembro, chapéu e terno brancos, percorria a praça e em frente aos poucos degraus do coreto punha-se a ganhar a vida. Era mais um a fazer parte daquela orquestra. De sua panela, em…
O Pinto e o bigode
Bei Gott! Não por acaso escrevo uma expressão que, segundo a história, causava estranheza a quem ouvisse essa interjeição germânica, falada pelos alemães que viviam na Península Ibérica: “bei Gott!” significa por Deus;. Sem que entendessem seu significado, os ibéricos apelidaram os bigodudos alemães de bigod. Aportuguesada a palavra traduz esse apêndice peludo de variadas formas, tamanhos, estilos etc que vários seres masculinos se predispõem a usar. Algumas mulheres também, vá lá…. Até aqui nenhum problema. Bigode é bigode e ponto. Mas terá esse adereço natural e peludo o poder de provocar reações inusitadas capazes de me fazer lembrar-me do meu pinto? Calma! Não há nada de mal em me…
O homem que chupava chupeta.
Em seu mundo acambetado, o homem enxergava tão distante quanto um recém-nascido… Dizia, aos quatro cantos, que achava a vida muito cruel; era mesmo, viver, em sua opinião, uma tarefa árdua; tantos eram os problemas: fome, miséria, xenofobia, acidentes naturais, tráfego de humanos, ódio, racismo, corrupção, doenças…ufa! Sua ladainha listava os infortúnios que a existência teimava em lhe apresentar; continuava ele a debulhar lamentações e a reclamar de tudo. O copo sempre estava meio vazio ao seus olhos – preto e branco – acostumados a observarem a vida com a perspectiva de uma minhoca enterrada na terra. Esperta, a vida se lhe apresentou travestida de morte e, num flerte ameaçador,…