• Crônica

    Epiceno: um substantivo difícil.

    O gavião-macho, sem papas na língua, com aquele seu bico adunco, advertiu-me que não aceitaria ser chamado só de gavião: tinha que ter o macho! De tanto que insistiu virou um pinhé Gavião homofóbico esse; isso sim: pensei com os meus botões.  Atônito hesitei em acreditar na ousadia do bicho; afinal, enfrentou-me como ninguém. Deixa estar: há de ter uma lição: encontrará um chimpanzé gay,  a dividir um galho, que não aceitará esse preconceito e destroncará seu pescoço. Morrerá feito galinha nas mãos de uma cozinheira a moda antiga.  O jacaré, de boca aberta a espreitar-me, resolveu entrar na conversa: perguntou-me o porquê da minha indignação com o bicho voador.…

  • Crônica

    Nós humanos amamos pra cachorro!

    Chega a ser divertido e até engraçado a maneira com que as pessoas se apegam aos bichos de estimação. Talvez “estimação” já explique o que quero dizer. Mas é incrível o quanto esse sentimento extrapola quando se trata desses pets.  – “Aqui, coloca a ração pros vira-latas perto do filtro; mas coloca à tarde, porque se colocar de manhã pode estragar e fazer mal pra eles; eles vão comer de qualquer jeito; eles comem tudo;  podem passar mal; ah…eles percebem, né? – Perguntei pra laica hoje de manhã: o que foi laica? Ela me olhou com os olhinhos tristes e o rabo meio pra baixo, amoadinha… Ficou triste. – Aqui,…

  • Crônica

    Apenas um sonho…

    A campainha acusava o telefone. Solitariamente, em meio ao quarto, acabrunhado encontrava-me. Relutei em atender ao chamado. Cinco e quinze da manhã; o cansaço perdera para a insônia. Outro toque: corri. Uma voz distante sussurra um endereço. Um frio superficial toma conta do meu corpo. Indaguei aquela voz estranha. O silêncio no aparelho espargiu no ar.  Imediatamente armei-me com um calibre trinta e oito. Um conhaque coloquei goela abaixo. Já no portão olhei para todos os lados: o alvorecer, outra coisa não vi.  Na praça mencionada um busto eminente acusava o lugar marcado. Aproximei-me e percebi um manuscrito. Abri: a caligrafia não combinava com a situação enigmática e de pavor…

  • Crônica

    Anastássios Hristos Kambourakis

    “Lelê: você está vendo tudo isso? Olhe até onde sua visão não puder mais enxergar: tá  vendo aquela montanha? aquela cerca lá no final, perto da linha do horizonte? Tudo isso pertence aos meus filhos. Portanto, pertence a você também!” Essas palavras foram, para mim, a mais perfeita maneira de dizer “eu te amo” que já ouvi em minha vida e dirigidas a mim. Manhã linda de sol, num sábado de verão, estávamos em Amparo. Com frequência, aos sábados, eu e Anastássios, partíamos em direção ao sítio de sua família. Éramos eu e ele apenas e, sinceramente, não precisava de mais nada nem ninguém. Íamos contando causos como dois velhos…

  • Crônica

    A Palavra…

    Como definir a palavra? Fascinante e enigmática é o que vem de bate-pronto.  A voo de pássaro, como diria Ayres Brito quando disfarçado de poeta, responda: qual o significado da palavra epiceno? Não vale dar uma espiadela no Google. Seja honesto!   Pronuncie o exemplo que dei há pouco: espiadela. Soletre: es-pi-a-de-la. Não é belamente sonora? Sensual, até? Parece traduzir uma certa proibição; um algo inofensivamente errado… chega mesmo a nos dar a impressão de ser um ente vivo. E, a rigor, é, pois que o vocábulo tem vida própria. A palavra é algo incrivelmente encantadora. Não importa se bonita, feia, sonora, fácil, difícil, incomum ou não. A palavra é como…

  • Crônica

    A máquina de escrever

    Inauguro minha máquina de escrever. Para um romântico, como eu, começo mal. Meio sem graça e pouco criativo, começo. Há de se aquecer o cérebro. Fico um pouco decepcionado: apesar dos recursos que a máquina possui é um tanto barulhenta – elétrica. Escrevo acariciado pelo som de Neil Diamond – Live in America. Indescritível: como o encontro das águas. Deve-se ver; no caso de Diamond: deve-se ouvir. Ouço, agora, Play me. Divirto-me sozinho… Eu e minha metralhadora, sofisticada, continuamos. Ela às minhas ordens. Mas… nada escrevo que se aproveite: apenas registro minha inauguração e penso na vida. Lembro das Marias e das Marias que não as conheci. Lapso de romântico?…

  • Crônica

    A caneta

    Interessante! Talvez curioso. Meu destino é São Luiz do Maranhão. Estou na primeira escala do vôo: Brasília. O comissário anuncia uma hora de espera. Minha ansiedade responde com uma escapada para fora da aeronave; são 21h30m. Passeio pelo saguão do aeroporto e não vejo, senão, o de sempre: pessoas, lojas, vitrines e preços. Livraria minha predileta. Uma carinhosa lembrança convida-me a uma lembrança da cidade como presente. Nada me comove e, então, nada compro. São Luiz deverá ser mais entusiástica. Pares de óculos trocam-me olhares… mas já os tive aos montes e hoje os tenho, dois. No bolso, a Bic sem tampa insiste em riscar minha camisa. Hum… Sinto uma…

  • Poesia

    Livro – Quase Poesias

    Quase Poesias… são rimas breves, adolescentes, recheadas de inocentes libidos e inofensivas paixões. Em sua maioria são versos criados entre os doze e vinte anos e, alguns outros, poucos, de lá para cá.  Já se vão mais de trinta anos… Resolvi transformá-los em um singelo livro de quase poesias por capricho e gosto, quem sabe ainda de imaturo vigor. É, pois, uma maneira de brincar um pouco com minhas lembranças da tenra idade. Livro despretensioso. Para amigos que, certamente, saberão guardar a lupa da razão e, no máximo, rir, afinal não são mais que Quase Poesias… Portanto, lúdico, na medida em que nada se pretende a não ser recordar memórias…

  • Conto,  Literatura,  Opinião

    O gato!

    Felino auspicioso! Sabe o que é o amor sem cobrança! Cuida e conta com o cuidado, mas, cuidadoso que sói, espia a maldade na busca meditativa da vida plena. Dinâmico com a mesma miada com que é contemplativo e descansado! Este é gato: sinônimo coloquial da beleza másculo-feminina que, para os biólogos é saciável! Para os poetas, como dizia minha Nonna Noêmia Merllo Massaia Chimicatti o é insaciável por natureza, aliás, assim éramos todos nós vistos por ela naquela greta do basculante da saudosa Ametista, 49 do Bairro Prado da capital das alterosas!Nonna, aliás, sabia: todos somos insaciáveis; mais ou menos narcisistas; italianos, então, somos eloquentes. Mas o gato é…

  • Poesia

    Filho meu!

    Filho meu Como eu … Alma minha, Alma boa. Algo incrível! Razão voa… Tanto faz: De trás pra frente, De frente pra trás. Tanto faz: Razão voa… Algo incrível ! Alma boa, Alma minha. Como eu, Filho meu! (ler, agora, de baixo pra cima) Post Views: 143