O celular e a solidão
Dia lindo! Saio para pedalar em plena Av. Paulista. Palco, aos domingos, de uma incrível diversidade. Sons de todos os tipos. Tocados ou não. Literalmente. Protestos à esquerda, à direita. Malabarismos, academias ao ar livre. Performers de toda ordem. Pedalo dez minutos e me dou conta de que esqueci meu celular. Normalmente pedalo ao som de Withey Houston, Tim Maia, Belchior, Só pra Contrariar, Luiz Melodia, Raça Negra, Lisa Stansfield, Áurea, Tracy Chapman, Alicia Keys, entre outros. Uma play list eclética sem nenhum juízo de valor. Tim e Tracy não são desse mundo e Elis, que havia me esquecido de citar, é meu eterno amor. Como andar de bicicleta sem…
Minha bolha estourou! E a sua?
Alguém de vocês já parou para pensar no vírus Ebola na África? Nem eu; até agora. Pois bem, tenho pensado em como minha vida é, digamos… maneira: minha grande preocupação é estar seguindo à risca meu planejamento estratégico e alcançando as metas do meu orçamento -pessoal e empresarial. Também me preocupo em ganhar, gastar e guardar dinheiro para a velhice (nessa ordem); que prato poderei cozinhar no final de semana e se meus filhos poderão degustá-lo comigo e minha mulher. Qual vinho? Como fazer frente aos meus mais mundanos desejos: consumir, comer, beber, passear, ler, viajar, etc etc… Um dos meus infortúnios é meu estômago a reclamar, vez por outra;…
A qualidade e o mindfulness do Macedo.
Acordo cedo e me dirijo para o trabalho. Trânsito e aquelas coisas todas que todos conhecemos: motoqueiros nos desafiando, motorista fechando motoqueiros, bicicleta no meio da pista, carroça, skate, o diabo de uma manhã de trânsito em Sampa. Difícil é explicar como gosto dessa cidade maluca e de malucos que a habitam – eu incluso. Vá lá: tempos atuais…. Chego na empresa. É minha primeira semana; integração e tal. Lembrei, porém, que nesse dia meu destino seria a fábrica em Bragança Paulista e não no escritório em São Paulo. Pior, até Bragança é, no mínimo, hora e meia só de estrada. Lembra aquele trânsito? Pois é. Uma comichão me subiu…
Honra ao mérito – ao meu pai!
Aos onze anos de idade meu pai, com malária, tinha que levar marmita ao seu irmão para que esse almoçasse. O ano? 1940, época que boi era bicho do mato e corria atrás de gente. Época em que, se dizia, amarrava-se cachorro com linguiça. A fazenda onde o irmão labutava, no interior de São Paulo, distanciava-se oito quilômetros de sua casa. A pé o menino com seus cambitos finos punha-se estrada de terra a fora debaixo de sol a pique. A febre causada pela doença tinha hora quase certa e quando ela chegava o menino sagui, de tão magrelo, tremia de se envergar. A maldita da quentura dava as caras…
Escrevi porque o quis!
Restava pouco tempo de vôo. Certa turbulência e pensamentos. Pensei o que dizer para mim mesmo, pois, que de súbito, desejei escrever. Li certa vez que Graciliano Ramos havia dito que escrevia porque era forçado a fazê-lo. Como questionar escritor de tal monta? Mas não creio! Escrevemos para dizer algo ao mundo, talvez na esperança de explicá-lo a nós mesmos – quem escreve. Arrisco dizer que escrever é refletir, no papel, os tormentos e aconchegos da alma. Ainda que haja convicção no assunto é no papel que depuramos com mais exatidão o que está lá em nosso âmago. Assim percorremos os caminhos do nosso conhecimento e desconhecimento, do nosso ser…
Equação de alto grau.
Um lapso de nostalgia e a lembrança de um amigo. Como um terrorista o telefone insulta-me à uma ligação. Explode um número conhecido e pego o aparelho. Inevitável: talvez não seria o número ideal. É um amigo, mas… Fantasmas: há tempos não nos falávamos e, a última vez, eu o procurara. Pequenez? Talvez. Arrogância do cotidiano, cuja trégua é o isolamento. Frustração. Outros dígitos a memória vasculha em seus infinitos mistérios. Outro amigo; outro fantasma. Deixa pra lá; poderia convidá-lo para uma cerveja; jogar conversa fora. Ruminaria minhas expectativas, ouviria as dele. Fortaleceríamos as metáforas e redundâncias, não importa. Veríamos-nos novamente; capricho não há numa amizade; não deveria haver, pois…
Epiceno: um substantivo difícil.
O gavião-macho, sem papas na língua, com aquele seu bico adunco, advertiu-me que não aceitaria ser chamado só de gavião: tinha que ter o macho! De tanto que insistiu virou um pinhé Gavião homofóbico esse; isso sim: pensei com os meus botões. Atônito hesitei em acreditar na ousadia do bicho; afinal, enfrentou-me como ninguém. Deixa estar: há de ter uma lição: encontrará um chimpanzé gay, a dividir um galho, que não aceitará esse preconceito e destroncará seu pescoço. Morrerá feito galinha nas mãos de uma cozinheira a moda antiga. O jacaré, de boca aberta a espreitar-me, resolveu entrar na conversa: perguntou-me o porquê da minha indignação com o bicho voador.…
Nós humanos amamos pra cachorro!
Chega a ser divertido e até engraçado a maneira com que as pessoas se apegam aos bichos de estimação. Talvez “estimação” já explique o que quero dizer. Mas é incrível o quanto esse sentimento extrapola quando se trata desses pets. – “Aqui, coloca a ração pros vira-latas perto do filtro; mas coloca à tarde, porque se colocar de manhã pode estragar e fazer mal pra eles; eles vão comer de qualquer jeito; eles comem tudo; podem passar mal; ah…eles percebem, né? – Perguntei pra laica hoje de manhã: o que foi laica? Ela me olhou com os olhinhos tristes e o rabo meio pra baixo, amoadinha… Ficou triste. – Aqui,…
E o roteiro? Prego!
Há menos de oito horas para atravessarmos o atlântico Fernando desembarca em São Paulo com Juliana. Uma ligação e quarenta minutos depois estamos no Bixiga. Cantina ótima, comida excelente em grandes companhias: Verena, Bruno e Faé. Iniciamos nossa jornada com chave-de-ouro. Três garrafas de vinho, massa e um filé mignon feito em nossa frente à beira da mesa, nos despedimos e partimos rumo a Madri. A viagem tinha como roteiro Madri, Roma, Toscana, Veneza, cruzeiro de Veneza a três cidades da Croácia e uma em Montenegro. Em seguida o rumo era Messina, especialmente Taormina, Sicília, Capri; volta a Roma para irmos a Munique, escala para São Paulo. Ufa! Expectativa total.…
Apenas um sonho…
A campainha acusava o telefone. Solitariamente, em meio ao quarto, acabrunhado encontrava-me. Relutei em atender ao chamado. Cinco e quinze da manhã; o cansaço perdera para a insônia. Outro toque: corri. Uma voz distante sussurra um endereço. Um frio superficial toma conta do meu corpo. Indaguei aquela voz estranha. O silêncio no aparelho espargiu no ar. Imediatamente armei-me com um calibre trinta e oito. Um conhaque coloquei goela abaixo. Já no portão olhei para todos os lados: o alvorecer, outra coisa não vi. Na praça mencionada um busto eminente acusava o lugar marcado. Aproximei-me e percebi um manuscrito. Abri: a caligrafia não combinava com a situação enigmática e de pavor…