A sentença
Na década de 50, como já contei, eu fazia parte da turma de rapazes do Bairro de Lourdes, mais conhecida como Turma do Bodão. Nos reuníamos, todas as noites, invariavelmente no bar do Bodão. Uns chegavam mais cedo, outros por volta das 22:00 hs, após se despedirem das namoradas. Mas o fato é que ninguém queria perder esses encontros porque, além da camaradagem, era ali que se combinavam as tretas que iríamos fazer. Mas antes do “causo” de hoje, vou falar um pouco sobre o Bodão. Alto, magro, nariz enorme, nenhum dente na boca, assim era ele. Sempre de bom humor, não tinha nenhum complexo para o constante sorriso largo, no…
Malandro Cocô
Minha turma de juventude no bairro era o que o Seu Afonso um dia chamou de “do cú riscado”! De fato, a gente aprontava. No nosso manual só não existia desrespeito aos idosos e discriminação. Fora encontros casuais, a gente se reunia, invariavelmente à noite, no Bar do Bodão, personagem folclórico, que um dia lançamos como candidato à Presidência da República e cujos “comícios” atraíam multidões e se tornaram notícias de jornais. Dia desses, vou contar alguns “causos” relacionados, mas hoje vou falar sobre o Luiz Otávio. Ele era uns 5 ou 6 anos mais novo do que a média de idade da Turma do Bodão, como éramos conhecidos, mas insistia…
O pato morreu!
Hoje vou contar mais um “causo”. Esse, acontecido em família. Minha mãe, já septuagenária, estava deliberadamente quase surda. Para que ela entendesse, a gente tinha de falar bem alto e ela tinha de ver o movimento labial. Escutar no telefone, então, para ela era um suplício. Pois bem, na véspera daquele dia ela tinha ido visitar a Ica, sua vizinha de fundos. A Ica, contristada, falou para minha mãe que tinha um pato de estimação e que ele estava muito doente. Até a levou para ver o dito pato. No dia seguinte, bem cedo, toca o telefone lá em casa. Minha mãe atendeu. Era a Ica no outro lado da linha. Pesarosa,…
O “PRÁ” DE CINCINNATI E O “CRÔ” DE CHICAGO
É tempo de pandemia e, na Rede Globo, retorna a novela Fina Estampa, que traz o famoso personagem Crô, interpretado de forma ímpar pelo ator Marcelo Serrado. Aliás, alto lá!! Crô é para os íntimos, o nome dele é Crodoaldo Valério. Pois bem, com o retorno da novela, me lembrei de minha primeira viagem internacional à trabalho. Fui, com meus sócios Fernando Fraga e Hebert Chimicatti, para os EUA, mais precisamente para Cincinnati, onde teríamos uma reunião com os advogados de lá. Aqui é preciso abrir um parêntese. Antes de ir para Chicago, a cidade do Crô, preciso falar da reunião no escritório de advocacia americano. A reunião, com dois…
Garrucha – o matreiro curioso.
Garrucha: assim era chamado um senhor matuto de inteligência ímpar e muita perspicácia. Curioso que só, queria porque queria descobrir o preço de venda de um sítio vizinho ao seu. Antes do raiar do dia e o sol mandar a noite dormir, Garrucha já pitava seu cigarrinho de palha na soleira de seu casebre. Pensativo testemunhou o dia chegando de mansinho e a coruja se recolher conformada. Após alimentar suas crias e de café tomado arquitetou um plano para, então, ir ter com o dono da propriedade colocada à venda. Deu em sua telha de convidar o Zeca, dono de uma pequena, mas próspera loja de materiais de construção de…
O Passarinho, a porra do Coelho e o Brasil
Vou contar um “causo” do início da minha carreira. Quando iniciei minha vida acadêmica, estava sedento para arrumar um estágio em um escritório de advocacia. Queria viver o dia-a-dia de um advogado e queria, sobretudo, usar terno! Ok, hoje estou preferindo uma sunga. Tive, então, a oportunidade de trabalhar no escritório do Dr. Paulo Passarinho, um dos maiores advogados que conheci. Além do seu primoroso conhecimento técnico e dos seus ternos bonitos, ele era colecionador de canetas, cada uma mais bonita que a outra, e aquilo me fascinava – terno, escritório, caneta, processos, Diário Oficial imprenso, enfim, um mundo novo, hoje velho. Além de ler, todo santo dia, o Diário…
Mentira tem pernas curtas e, às vezes, peluda…
A estória nunca pôde se comprovar. Ano vem, ano vai, não sai, ela de boca alheia, porém. Lá pelos idos de mil novecentos e guaraná com rolha, há muito tempo atrás, Dr. Adamastor Rodrigues resolveu comprar um presente para sua esposa. Cidade pequena, poucas lojas e povo todo conhecido uns dos outros. Ao entrar na loja, Dr. Adamastor, então renomado dentista na cidade, foi recepcionado, efusivamente, pela simpática vendedora, Ana, que lhe perguntou em que poderia ajudá-lo. O famoso tira-dentes apontou para uma bonita lingerie. Era surpresa para comemorar seu aniversário de casamento e queria que aquela noite fosse inesquecível. Imediatamente, Ana, mostrou-lhe várias peças de lingerie sensualíssimas, além da…
Bêra
Veio do interior de Pernambuco. Pelo que se sabe, de um lugarejo qualquer, perdido no mapa, onde todos viviam da cana. Ou melhor, do plantio e da colheita dela, logicamente a serviço dos “ senhores” dos engenhos. Seu nome: Beraldo Cândido da Silva. Com muito esforço, concluiu o curso primário numa escola rural, o que lhe dava muito destaque naquela comunidade pobre e simples. Um belo dia, cansado do trabalho duro, da quase miséria, juntou alguns trocados e resolveu tentar a vida em São Paulo. Desde a partida, acompanhou-o uma tal de hérnia do disco (como diagnosticou um médico em Recife, onde chegou morrendo de dor) e que já lhe…
Inferno
Contou-me, meu velho pai, Luiz Chimicatti Netto que, certa feita, um de seus convivas do interior de Minas Gerais, Ezequiel, degustando uma boa cachaça no balcao do bar do Zé de Alaíde, em Monte Azul, cidade do norte de Minas e “ponta de linha” da RFFSA por aquelas bandas, por ocasião de uma de suas milhares viagens como “chefe de tren” lhe confidenciou que estaria sendo assediado pelo “capeta”. Indignado, o velho indagou ao seu amigo sobre os porquês do assédio e o porquê já não havia denunciado à Deus tamanho abuso do “coisa ruim”. Tratando logo de responder à forte indagação, revelou, o assediado Ezequiel, que o “cramulhão” estaria…
A Frase Fatídica
Estou chegando para contar um “causo” real e bem pitoresco: Em fins da década de 60, eu trabalhava na Secretaria das Finanças, hoje Secretaria de Estado da Fazenda, quando foi nomeado um novo Secretário. Assumiu, com pompas e circunstâncias e logo mandou que se colocassem em todos departamentos quadros com uma frase de sua criação, a saber: “Não basta despachar o papel, é preciso resolver o negócio”, seguindo rebuscada assinatura dele. Pois bem, não demorou para que um gaiato pichasse, em letras garrafais, na parede da privada: “Não basta resolver o negócio. É preciso passar o papel” !!! Sem demora, foram retiradas e sumiram os quadros afixados nos departamentos. No…