Filha danada! Filha amada!
Nesse mundão de meu Deus Onde tudo está do avesso Onde o mato come a vaca E a vaca armenta o preço É bão de ter uma filha danada Sorteira ou casada. Contrário de tempos outrora Rompendo tradição passada Filha bonita e educada Vai pro mundo preparada. Pois o que é bão mesmo, É filha valente, Daquelas que enfrenta a vida no dente, De forma delicada. Filha assim que quero. Não filha mimada. Filha com fibra. Filha de purso firme, E muito endinheirada. Feliz da vida e azeitada. De vida honesta e de valores arraigada. Preocupação de pai aposentada. Orgulho de filha Filha danada! Filha amada! Alexandre Post Views: 146
A arte e o prazer de escrever
Tiro cor da palavra velho, que carrega certa pecha por indicar a ideia de decadência e vulnerabilidade, dizendo que estou distante da minha tenra idade… Um disfarce poético de um apaixonado pela boa escrita que empresta de Pedro Nava – contemporâneo do nosso maior poeta, Drumond – a sentença que dizia: “acaricie uma frase e ela sorrirá pra você”. Truques de quem aprecia um texto, mais do que correto, harmonioso, criativo, que faz da alma a folha de papel que acomoda as palavras como uma barriga de aluguel que gesta um texto sedutor. Embora creio, Nava, talvez, nunca usasse o termo “pra” e sim “para” (acredito que o lapso é…
A Amizade , a péia e a tradição…
Oitocentos capeletti. Oitocentos? Sim! Fatto a mano. Aos sábados nossos amigos de BH, resolveram almoçar, digamos… virtualmente juntos; dado o novo normal pandêmico. Cada sábado, um amigo elabora um prato e o envia para os demais amigos – para a família toda. Hora marcada, ligam seus respectivos computadores e, como mágica, almoçam juntos se deliciando com o prato recebido. É o que chamo de sofisticadamente simples; extraordinário, fraterno e delicioso. Sexta-feira, à tarde, recebo uma encomenda: um isopor lacrado, com meu nome e endereço, vindo de Belo Horizonte – MG. Dentro, três vasilhas descartáveis com capeletti e molho de tomate. Tudo no gelo seco a menos oitenta graus para aguentar…
“Ostra feliz não faz pérola”
Em seu livro Ostra feliz não faz pérola, Rubem Alves escreve uma crônica maravilhosa: nela ele conceitua que para ouvir ao outro é preciso ser humilde. Não li o livro; li a crônica e fui atingido em cheio na minha arrogância. Percebi o quanto sou, muitas vezes, aparatoso. Magicamente, porém, o escritor me fez ouvi-lo e ouvindo-o refleti: por que achamos que a nossa verdade é absoluta? Por que ao ouvirmos alguma opinião não paramos para pensar a respeito sem que vomitemos nossa certeza? Falta-nos empatia, compaixão? É nossa ignorância a nos dominar? A falta de humildade colocada por Rubem Alves? Em tempos de extremismo e polarização exacerbados em todas…
Hospedeiro ou transmissor: nenhum, nem outro, apenas detentor.
… exatamente isso: valho-me do ócio criativo que esta porção de tempo denominado pelos cristãos, domingo, em que me encontro, para expressar alguns sentimentos, de há muito acumulados em minha mente, razoavelmente, criativa. Não escolhi o domingo para essa modesta crônica, mas, uma vez, coincidente ou não, a presente empresa já nasce contraditória em seus básicos fundamentos, levando-se em conta a origem do “dia” e meu, inevitável, isolamento. Conta-nos a história que o “dies dominica”, revelado em louvor ao Criador, em sua homenagem e ao seu merecido descanso, após seis ininterruptos dias de criação, traduzia-se, na idade média, como o “dia do Senhor”, ocasião em que as igrejas ficavam repletas…
“A vida é difícil!”
Há exatos vinte e sete anos atrás li “A trilha menos percorrida”, de Scott Peck. O livro escrito por esse psiquiatra americano começa com uma afirmação cuja a verdade é absoluta: “A vida é difícil!”. Essa frase me fez pensar que a verdade é simples, normalmente; nós a deturpamos e modificamos, para suportar sua simplicidade indelével. Curioso que, atualmente, inventamos a tal pós-verdade que dribla fatos objetivos para conquistar opiniões favoráveis aos nossos interesses ou, ainda, para nos iludirmos, sublimarmos, camuflarmos, como camaleões, a verdade simplesmente, na tentativa de nos protegermos. À época, bem mais jovem, li a frase “A vida é difícil”, tão bem definido por Peck, de an…
Heresia
Eram dezoito horas e cinquenta e cinco minutos, de um sábado invernado de frio e de cachaça, acompanhados de uma desfiada carne cozida saborosíssima, coberta de cebola roxa, refogada no caldo do próprio cozido! Logo que se atravessava a soleira do pórtico vestibular, deparava-se com um horizontal balcão de ardósia, bem ao molde dos anos 80. Por detrás desse lustrado balcão, ficava a Cidinha, manceba solteira, alegre e cativante, que atendia, com um belo sorriso no rosto, quem ali ia entreter-se e degustar uma maravilhosa carne cozida, tomar uma bela cachaça mineira e uma Brahma geladíssima! Lá era o bar da Cida, que ficava na terceira rua à esquerda de…
Oração e alimento: não seriam, ambos, a mesma coisa?
Nosso blog foi criado depois de muito pensar. Somos um grupo singular de amigos que se amam e discutem tudo. Absolutamente tudo! De verdade, poderíamos ser a caricatura de uma família feliz que se utiliza da individualidade, crenças e modos, para interagir com a essência humana: com vícios e virtudes de seres humanos na concepção da palavra.Nossas idiossincrasias nos credenciam a concordar, discutir, rir, reunir, chorar, criar perspectivas e sonhar com um futuro mais fraterno, compassivo e cheio de defeitos também…Por quê? Somos humanos antes de sermos amigos! Aqui está a graça e a riqueza que nos ilumina. Não somos mais do que humanos. Pois bem, espaço criado para interagir; escrever;…
Piano, piano se vá a lontano
Professava a nona Noêmia, todos os dias, ao chamar-me para um “bicchiere” que brindava uma belíssima iguaria ao mangiare do dia! O vinho, alimento da alma, foi um dia o sustento da origem da minha famiglia! Rua Franciso Socaceaux, Bairro da Lagoinha, esse foi o mágico endereço onde a uva colhida no quintal era macerada com os pés do Luigi Merllo, enquanto a Luccia Massaia preparava o pão! Logo saído do Forno à lenha, o burrinho já arriado partia sob o chamado da Nona que, mascateira qua era desde a tenra idade, saía para sua peregrinação peripatética pelo bairro dos Italianos, recém chegados da “Terrinha” para a venda do vinho…
A foto e o príncipe
Certa vez ouvi a frase, de autor desconhecido, que há dois tipos de fotos: aquela que sai como você é e aquela que sai como você gostaria de ser… Definição verossímil, não ? Pois é: que o diga o Photoshop da vida… Dei conta desse negócio – “ ser ou não ser, eis a questão” – quando tive que escolher uma foto para o nosso blog. O blog, diga-se, é um espaço que criamos, entre amigos, que querem escrever, oferecer receitas, indicar vinhos etc… Uma forma lúdica de tratar coisas sérias e valorosas para nós, meia dúzia de apaixonados por essas pílulas de sublimação à vida. Assim, comecei a procurar…