• Causo,  Literatura

    Malandro Cocô

    Minha turma de juventude no bairro era o que o Seu Afonso um dia chamou de “do cú riscado”!  De fato, a gente aprontava.  No nosso manual só não existia desrespeito aos idosos e discriminação. Fora encontros casuais, a gente se reunia, invariavelmente à noite, no Bar do Bodão, personagem folclórico, que um dia lançamos como candidato à Presidência da República e cujos “comícios” atraíam multidões e se tornaram notícias de jornais.  Dia desses, vou contar alguns “causos” relacionados, mas hoje vou falar sobre o Luiz Otávio.  Ele era uns 5 ou 6 anos mais novo do que a média de idade da Turma do Bodão, como éramos conhecidos, mas insistia…

  • Crônica

    Não aproveitamos nossos pais…

    Contava com oito, dez anos… sei lá e lembro-me, perfeitamente, de meus pais, preocupados, me levando a um pediatra, na Praça da Sé. Pós consulta parávamos numa lanchonete e meu pai comprava um bauru no pão de forma e um copo de suco de laranja. Íamos e voltávamos de ônibus. Tudo pra mim era novidade e delicioso: do ônibus ao queijo quente a se esticar do pão à minha boca. Lembro-me, também, de irmos –  aos domingos – a pé à casa de meu tio, irmão de meu pai, que ficava uns dez quilômetros de distância da nossa e, no meio do caminho, meu pai me punha de cavalinho, carregando-me…

  • Cordel,  Literatura

    BELO HORIZONTE

    Tanto de trem que tem lá… e aquele que o povo chama de Lagoinha, para o resto do mundo é copo americano, mas, para eles é Lagoinha! Fazer o quê? Já a Logoinha que, um dia foi repleta de água, é um bairro que, outrora, foi berço dos ítalos-imigrantes e nascedouro da minha história.Passear na rua para o flerte ou para mero deleite era footing… mas, a calçada da, então principal rua de BH, Além Paraíba, até hoje se chama passeio! O Prado, que não é verdejante, era região de baixo meretrício, muito antes do 49 da Rua Ametista, porém, foi em nome do Santo Cura D’Ares que a Basílica…

  • Crônica

    Hoje tenho medo!

    Fui moleque valente. Hoje, homem covarde. Mas é aquela covardia boa… de quem quer apenas viver; deixar a razão sem importância de lado e buscar a leveza do ser feliz; como quem sente aquela brisa suave e mansa acariciando o rosto não mais menino.  O caminhar me ensinou que quando não é fraqueza de caráter a cobardice é meritória.  Hoje tenho medo!  Não ouso mais coragem infantil, beligerância probatória. A testosterona não há mais em excesso; o tanto que hoje a tenho faço melhor uso e me delicio mais… Uma querida amiga enviou-me, dia desse, um texto de Adélia Prado, belíssimo, em que dizia que “a criança ignora o quanto…

  • Cordel,  Literatura

    PALAVRAS AO VENTO

    Varais, não mais, os há. Poemas ao vento, tampouco. Cadente, talvez, a metria. Ententes silógicas, vazio de um oco. Movimento do ar, leve e sereno! Candeiam, vibrantes, as mentes. Não fossem os verdes venenos! Estilhaçam os sonhos dormentes. Se, no entanto, agitados os ventos, Desfraldados, incautos, os cordéis Vibram as veias dos inventos Eis que palavras são muito mais que papéis! Post Views: 586

  • Crônica,  Literatura

    ESCOBAR, VITTAR OU NERUDA…

    O Escobar, Vittar ou Neruda… somos! Guerreiros, emocionais, irreverentes e astutos!  Pouco decifráveis, mas livres… de tudo e de todos!  Viveram e vivem para a arte de viver ensimesmados e para viver artisticamente para sua emocionada plateia!  Não os creio como quem pensa só em si, ao contrário: são o que são e nos exemplam em como devemos ser: plenos em busca do bem viver! Do nosso bem viver!  Lamento, somente, que o píccolo cérebro do primeiro não pudesse se assemelhar ao humano dos outros!  O Escobar, píccolo, teria muito que se inspirar no Vittar, humano, mas, ambos, certamente não olvidariam do Neruda, aliás, todos são Pablos… e por sê-los,…

  • Crônica

    Tudo mudou e nada muda: “meu pilão primeiro”.

    Acordo com o dia frio e, por alguns minutos, esqueço que estou confinado. A pandemia, como um despertador, me dá a real lembrando-me de que,  sim, estou confinado há mais dias do que eu poderia imaginar ser possível acontecer. Enquanto tomo meu café hesito em ligar a televisão, abrir o jornal e ligar meu computador – rotina diária  – novo normal – nova onda. Hoje, porém, algo está diferente. Há alguma coisa a mais que me tira atenção, me perturba. Tem um sentimento que vem e vai como ondas mansas de um mar barulhento… Outro gole no café e a lembrança da última frase de protesto de um homem, agora…

  • Crônica

    O tempo…

    Ah… o tempo… Percebem como somos apenas coadjuvantes do tempo? Como não o dominamos?  O tempo nos parece algo versátil, mágico: balançando em sua gangorra misteriosa do existe, não existe… Mesmo o disfarce do que se diz atemporal, que tenta negar o tempo, acaba por caracterizá-lo. Não fosse estranho diríamos  que o atemporal é o superego do tempo para  chamar a  atenção e lembrá-lo do ético, da moral, suplicando a não nos maltratar tanto. Falamos na atemporalidade como que para negá-lo. Tirá-lo da nossa frente, como uma revanche vingativa, ou para dele usufruirmos mais: ganharmos tempo.  Submetidos damos as mãos a ele e, ao seu lado, o deixamos acompanhar nossas…

  • Crônica,  Literatura

    Reflexões vadias

    Outubro. Baixa estação.  Hotel 4 estrelas, em franca decadência e aqui estou eu, em Natal/RN! Um dia de não fazer nada, porque um magistrado resolveu nada fazer! À beira da piscina, há mais de uma hora, entre um gole e outro de cerveja, que chegou geladinha- e que logo esquentou, por causa desse calor sufocante-, começo a observar melhor pessoas e coisas.  Especialmente, pessoas. É a terceira vez que aquele gordinho passa perto das duas coroas que estão tomando sol nas espreguiçadeiras, com latinha de cerveja na mão, óculos escuros (pelo jeito, de grife), tentando disfarçar a barriga saliente.  É uma abordagem! Fracasso, nas duas intenções! Lembrei-me de que, até…

  • Poesia

    Pluma

    Ei… por favor, fale mais suavemente… quero escutá-lo. Ouvi-lo falar baixinho e devagar me fará atendo.  Não há necessidade de por tanta cor em seu dizer. Aprenda com o silêncio, vez por outra, poderá, ele, dizê-lo mais.  Calma. Retome o fôlego.  A razão poderá ser protagonista se quiser ser genuíno; não use subterfúgios, nem tergiverse; com ela essas coisas não combinam. Para a chuva tocar o chão  e aplacar a quentura do sol, levar a poeira, houve um enorme caminho; manso; mudo… Posso compreender sua indignação, ainda, que não precisasse tanto. Pois que, às vezes nada há para não aceitarmos, apenas nossos pruridos por não compreendermos algo, ou, quem sabe,…